O Mouvement de libération des femmes (em português: movimento de libertação das mulheres), ou MLF, é um movimento feminista autônomo francês que defende a autonomia corporal das mulheres e denuncia o patriarcalismo da sociedade. Fundado em 1970 no contexto do Maio de 1968 e do women's liberation movement americano,[1][2] o MLF desafia as formas tradicionais de militância: opera por meio de assembleias gerais, pequenos grupos descentralizados e tem um repertório de ações extraparlamentares, como a organização de eventos, a criação e assinatura de abaixo-assinados, a realização de reuniões públicas, etc.
História
[editar | editar código fonte]Em 26 de agosto de 1970, uma dúzia de ativistas anônimas depositaram uma coroa de flores sob o Arco do Triunfo em homenagem à esposa do Soldado Desconhecido. Esta ação foi liderada por nove mulheres, incluindo Cathy Bernheim, Christine Delphy, Monique Wittig, Christiane Rochefort e Namascar Shaktini, e suas faixas exibiam esta frase: “há alguém mais desconhecido que o soldado desconhecido: a sua mulher”.[3] Elas foram imediatamente presas pela polícia, mas no dia seguinte a imprensa anunciou "o nascimento do MLF".[3][4][5]
Em suas origens, o MLF não era um movimento nem um partido político: nenhum líder era tolerado. O movimento era composto por coletivos e pequenos grupos. As militantes feministas buscavam lutar em todas as frentes, partindo do princípio de que o pessoal é político. Elas rejeitavam os ideais de beleza impostos pelo patriarcado, reivindicavam creches e pediam que seus parceiros dividissem as tarefas domésticas, além de denunciarem agressões sexuais e lutarem pelo aborto.
Uma das primeiras ações do movimento foi apoiar a rebelião no centro de adolescentes grávidas de Plessis-Robinson,[6] que tinham entre 13 e 17 anos. No final de 1971, os moradores iniciaram, com a ajuda do MLF, uma greve de fome. Alertada pelo MLF, Simone de Beauvoir foi ao seu encontro, acompanhada de jornalistas.
Correntes
[editar | editar código fonte]O MLF passou a ser conhecido por três correntes principais: Féministes révolutionnaires, Psychanalyse et politique e Lutte de classes.[7]
Psychanalyse et politique
[editar | editar código fonte]Psychanalyse et politique, ou Psych et po, foi um grupo de pesquisa do MLF fundado por Antoinette Fouque.[8][9] O grupo está na origem da editora Éditions des Femmes, da revista Des femmes en mouvements, do jornal Le Quotidien des femmes, e de livrarias em Paris, Marselha e Lyon.[10] Além de Fouque, membros notáveis incluíam Hélène Cixous e Luce Irigaray.[9]
Abertamente antifeminista,[8][10] o Psych et po esteve envolvido em várias controvérsias com outros grupos da MLF,[9] como o registo de propriedade do nome mouvement de libération des femmes em 1979.[11]
Questions féministes
[editar | editar código fonte]Questions féministes foi um periódico feminista publicado de 1977 a 1980. O conselho editorial incluía Simone de Beauvoir, Christine Delphy, Colette Capitan, Colette Guillaumin, Emmanuèle de Lesseps, Nicole-Claude Mathieu, Monique Plaza,[12] e mais tarde Monique Wittig.[13]
Referências
- ↑ Sinard, Alisonne (20 de janeiro de 2017). «La naissance du MLF: "Il y a encore plus inconnu que le soldat inconnu, sa femme"». France Culture (em francês). Consultado em 2 de junho de 2018
- ↑ Picq, Françoise (7 de outubro de 2008). «MLF: 1970, année zéro». Libération (em francês). Consultado em 2 de junho de 2018
- ↑ a b «Cinquantième anniversaire du MLF : l'hommage à la femme du soldat inconnu | TV5MONDE - Informations». information.tv5monde.com (em francês). 26 de agosto de 2020. Consultado em 29 de novembro de 2024
- ↑ Le Breton, Marine (26 de agosto de 2020). «Comment 9 féministes ont lancé le MLF le 26 août 1970 sous l'Arc de Triomphe». Le HuffPost (em francês). Consultado em 29 de novembro de 2024
- ↑ Robichon, Suzette (10 de janeiro de 2003). «Décès de Monique Wittig, figure phare du lesbianisme» (em francês). Consultado em 29 de novembro de 2024
- ↑ Poitte, Isabelle (8 de março de 2016). «"Elles... Les filles du Plessis"». Télérama
- ↑ Picq, Françoise (1987). «The MLF: Run for Your Life». In: Duchen, Claire. French connections: voices from the women's movement in France. London: Hutchinson
- ↑ a b Fouque, Antoinette (2012). «Qu'est-ce qu'une femme?». Génésique: féminologie III. Paris: Des femmes
- ↑ a b c Moses, Claire Goldberg (1998). «Made in America: "French Feminism" in Academia». Feminist Studies (2). 241 páginas. doi:10.2307/3178697
- ↑ a b Stewart, Danièle (1980). «The Women's Movement in France». Signs (2): 350–354. ISSN 0097-9740
- ↑ Duchen, Claire (1986). Feminism in France: from May '68 to Mitterand. London: Routledge and Kegan Paul
- ↑ Naudier, Delphine; Soriano, Éric (2010). «Colette Guillaumin. La race, le sexe et les vertus de l'analogie». Cahiers du Genre. 48 (1). 193 páginas. ISSN 1298-6046. doi:10.3917/cdge.048.0193
- ↑ Shaktini, Namascar (2005). On Monique Wittig: Theoretical, Political, and Literary Essays. [S.l.]: University of Illinois Press