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Língua nez perce

Nez Perce

Nimiːpuːtímt

Pronúncia:[nimiːpuː'timt]
Outros nomes:Niːmíːpu, Nuːmiːpuːtimt
Falado(a) em: Estados Unidos
Região: Platô do Columbia (Idaho, Washington, Oregon)
Total de falantes: c. 100[1]
Família: Penutiana
 Penutiana do platô
  Sahaptiana
   Nez Perce
Escrita: Alfabeto latino
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: ---
ISO 639-3: nez


Localização do nez perce e das penutianas do platô

O nez perce é classificado como em situação Crítica pelo Livro Vermelho das Línguas Ameaçadas (2010) da UNESCO

A língua nez perce (endônimo: nimiːpuːtímt; AFI/nimiːpuː'timt/) é um idioma da família penutiana, do sub-grupo do platô, do ramo sahaptiano, tradicionalmente falado pelo povo nez perce no noroeste dos Estados Unidos, especificamente no norte de Idaho (principalmente na Reserva Nez Perce, situada na parte nordeste do estado), em partes do leste de Oregon, notadamente na região do vale Wallowa, e em áreas adjacentes do extremo sudeste de Washington.

Atualmente, o nez perce encontra-se em situação crítica, com um número estimado de cerca de 100 falantes, sendo 20 falantes fluentes, a maioria dos quais são idosos.[2] Em comparação, a população étnica nez perce é estimada em aproximadamente 3.500 pessoas, o que significa que menos de 3% do grupo domina efetivamente o idioma.[3] O declínio acentuado ocorreu a partir do século XIX, intensificado pelas políticas de assimilação cultural por parte do governo estadunidense como a aplicação do lei Dawes (1887), que fragmentou as terras dos nativos e acelerou o processo de marginalização das línguas indígenas, além do envio forçado de crianças para internatos fora da reserva, onde eram proibidas de falar a própria língua. Em resposta, a partir do final da década de 1970, o autogoverno do povo nez perce, reconhecido oficialmente pelo governo dos Estados Unidos, Nez Perce Tribe[4], passou a implementar programas de revitalização do idioma, como escolas de imersão e a elaboração de materiais didáticos, buscando reverter o processo de extinção e promover a transmissão intergeracional do nez perce. Esse esforço culminou na criação do Nez Perce Language Program (NPLP)[5][6], um departamento responsável pela coordenação das iniciativas de ensino e pelo desenvolvimento de recursos pedagógicos.

No campo linguístico, a língua apresenta um sistema de escrita baseado no alfabeto latino adaptado, que busca representar com fidelidade os sons próprios do idioma. A gramática do nez perce é notável por seu sistema tripartite de marcação de caso (ergativo, absolutivo e, em alguns contextos, objetivo) e uma morfologia verbal na qual sufixos indicam tempo, aspecto e modalidade. Além disso, a fonologia do nez perce conta com a particularidade do fenômeno da harmonia vocálica em máximo contraste, um tipo muito raro de harmonia em que as vogais são organizadas em dois conjuntos de modo a manter diferenças perceptivas claras.[7]

Chefe nez perce Joseph. Ele não utiliza nenhuma concha no nariz, nem possui nenhum tipo de furo nasal.

O termo nez perce é tradicionalmente utilizado para designar a língua, surgindo no contexto dos primeiros contatos entre europeus e indígenas, sendo assim o exônimo. Esse nome foi cunhado por franco-canadenses no início do século XIX e deriva do francês, em que nez significa “nariz” e percé é o particípio passado do verbo percer, significando “perfurado”, ou seja, “nariz furado”. Originalmente, o exônimo era escrito como "nez percé", com o acento agudo no "é", refletindo a ortografia em francês. No entanto, ao ser adotado e transcrito para o inglês e outras línguas, o acento foi gradualmente eliminado, resultando na grafia "nez perce", que se tornou a forma oficial e mais comum em publicações e referências modernas.

O nome surgiu a partir da observação, por parte dos europeus, de um costume de alguns indivíduos usarem uma concha dentalium[a] no septo nasal.[8] No entanto, autores posteriores passaram a argumentar que os nez perce nunca praticaram a perfuração nasal de forma significativa e que os primeiros exploradores podem ter exagerado ou interpretado erroneamente o uso ocasional da concha dentalium. Existem registros etnográficos de uma outra comunidade indígena do Rio Columbia que utiliza a concha dentalium no septo nasal, os Wishram ou Tlakluit.[9] Essa revisão levou à conclusão de que "nez perce" pode ser uma nomenclatura errônea, um nome baseado em uma suposição equivocada.[8]

Mulher Wishram com concha dentalium no septo nasal.

O termo adotado pelos próprios falantes, ou seja, o endônimo, é nimiːpuːtímt. Esse termo é composto por dois elementos morfológicos: nimiːpuː, que significa "nós, o povo", e o sufixo -tímt, que designa "língua" ou "fala". Dessa forma, nimiːpuːtímt pode ser traduzido literalmente como “a língua do povo”.[8] A raiz nimiːpuː apresenta algumas variações históricas em sua forma. Registros antigos também mencionam variantes como numipu e nimapu, que aparecem em diferentes fontes do século XIX. Algumas interpretações indicam que nimi pode estar relacionado a um pronome inclusivo que significa "nós", enquanto puː se refere especificamente a "povo" ou "pessoas". Em algumas análises, a tradução de nimiːpuː também aparece como "o povo verdadeiro".[8]

  1. As conchas dentalium são ornamentos em forma de presa usados por povos indígenas da América do Norte para joias, adornos e comércio, especialmente no oeste do Canadá e dos Estados Unidos.

Distribuição

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Território de ocupação do povo nez perce (em verde). A Reserva Nez Perce é a área marrom delimitada dentro da área verde.

A língua nez perce é tradicionalmente falada nos Estados Unidos, concentrando-se no território ancestral dos nez perce, que se estende aproximadamente entre as latitudes 45° e 47°. Essa área abrange, principalmente, o norte de Idaho, onde está situada as Reserva Nez Perce. Há ocupação de falantes também no leste de Oregon, em especial a região do Vale de Wallowa, e o sudeste de Washington. Os limites naturais desse território são bem definidos: a leste, as Montanhas Bitteroot; a oeste, as Blue Mountains; e, em parte, o rio Columbia atua como uma barreira geográfica que contribuiu para a delimitação dos grupos falantes.[10]

Atualmente, o uso da língua concentra-se majoritariamente na Reserva Nez Perce, localizada no norte de Idaho, que abrange porções de condados como Idaho County e Nez Perce County. Essa reserva é o principal núcleo de transmissão e revitalização do idioma, reunindo a maioria dos falantes fluentes, estimados em cerca de 20 indivíduos. Fora da reserva, a presença de falantes é residual e geralmente associada a pequenos grupos familiares ou indivíduos isolados que mantêm o idioma.[10]

Quase um século após a relocação dos nez perce para reservas, a situação dialetal da língua não está completamente esclarecida. Informantes residentes nas regiões do ramo médio e sul do Rio Clearwater (em localidades como Stites, Kamiah, East Kamiah e Kooskia) relatam a existência de uma variante distinta, denominada de dialeto da parte baixa ou baixo-rio (lower nez perce ou downriver dialect). Estudos linguísticos realizados indicam que essa variante e o dialeto predominante, chamado de dialeto da parte alta ou alto-rio (upper nez perce ou upriver dialect), são mutuamente inteligíveis.[11]

Placa de delimitação da Reserva Nez Perce perto de Cottonwood, Idaho
Comparação entre os dialetos nez perce[11]
Dialeto alto-rio Dialeto baixo-rio Tradução[nota 1]
tukéytet tuéytet caçando
petkúhtuʔ petéhtuʔ nós vamos estar atirando
lmen nmen chinês
líːckaw níːckaw tampa da cesta
peʔénpeʔyse peʔénpeʔnse ele leva algo de alguém


O dialeto baixo apresenta pelo menos um fonema adicional /kʷ/, o que o caracteriza como mais conservador em comparação ao dialeto alto, conforme sugerido pelo inventário fonêmico proposto para o proto-sahaptiano. Nos dialetos, determinadas consoantes apresentam alternância, aparecendo como /l/ no dialeto alto e como /n/ no dialeto baixo, um fenômeno sistemático conhecido como simbolismo consonantal n-l. Essa variação não gera contrastes fonológicos ou semânticos significativos e, portanto, não afeta a inteligibilidade entre as variantes. No entanto, a dupla consonantal <y> no dialeto alto e <n> no dialeto baixo pode causar confusão nos falantes.[11]

Línguas relacionadas

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O nez perce pertence à família sahaptiana, um subgrupo das línguas penutianas do platô, que, por sua vez, fazem parte do amplo e controverso agrupamento penutiano. A hipótese penutiana propõe uma relação genética entre diversas línguas indígenas da América do Norte, abrangendo famílias linguísticas dispersas pelo oeste dos Estados Unidos, incluindo línguas da Califórnia, Oregon, do Platô do Columbia e do México.[12]

  • Penutianas
    • Penutiana da Califórnia
    • Penutiana do Oregon
    • Chinookan
    • Tsimshianic
    • Penutiana do México
    • Penutiana do Platô
      • Klamath–modoc (Lutuami)
      • Waiilatpuan
      • Sahaptiana
        • Sahaptiana
        • Nez perce

O ramo penutiano do platô agrupa línguas faladas na região do Platô do Columbia, uma vasta área que abrange partes dos atuais estados de Oregon, Washington e Idaho. Este subgrupo inclui:[12]

  • Klamath-modoc [en] (Lutuami) – Uma língua extinta que era falada pelos povos klamath e modoc, no sul do Oregon e norte da Califórnia.
  • Waillatpuan – Outra família extinta que compreendia as línguas cayuse e molala [en], ambas faladas na região do Platô.
  • Sahaptiana – O único grupo sobrevivente, que inclui o nez perce e outras línguas sahaptianas.[12]

A inclusão das línguas sahaptianas no tronco penutiano do Platô ainda é debatida, pois a hipótese penutiana não é universalmente aceita por linguistas. No entanto, evidências lexicais e gramaticais sugerem relações históricas entre essas línguas, indicando um possível ancestral comum remoto.[12]

Influência do salish

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Área de ocupação salish em contato com a nez perce

O nez perce recebeu influências significativas da língua salish (principalmente a variante do interior sul) devido ao contato prolongado entre os falantes dessas línguas. Essa influência se manifesta principalmente na adoção de vocabulário em diversas áreas, incluindo elementos da natureza, nomes de animais e plantas. Muitos desses empréstimos ocorreram antes da palatalização das consoantes velares no salish, fenômeno linguístico que alterou a pronúncia dessas consoantes há cerca de 150 anos.[13]

Empréstimos do salish para o nez perce[14]
Tradução[nota 1] Salish do interior sul Nez perce
Neve no chão makʷ me:qel
Desfiladeiro toqʷ toqo
Cebola selvagem sehc se:x
Chocalho cʔalʔ cʔalʔa:kstin
Saco de palha de milho qqepeʔl qeqepeʔl

A língua nez perce sempre foi um elemento central na identidade cultural do povo nez perce. Tradicionalmente transmitida de forma oral, a língua incorporava uma vasta gama de conhecimentos, desde os nomes de lugares, que descreviam características físicas do ambiente ou eventos significativos, até canções e narrativas que preservavam a história e a mitologia do grupo. Essa transmissão oral permitia que as sutilezas dos relatos originais fossem compreendidas integralmente dentro do contexto cultural, embora, quando traduzidos para o inglês, muitos desses elementos simbólicos fossem perdidos.[15]

História da tradição oral nez perce "Coyote e Monstro" em nez perce e em inglês

A mitologia e os mitos de fundação dos nez perce fazem parte de um vasto sistema de crenças que conecta o povo à sua terra ancestral. Um dos mitos mais conhecidos é o da origem do povo, em que se diz que os nez perce descendem de uma união sagrada com a terra (em algumas versões, os ancestrais surgem diretamente da terra). O Coyote (ʔiceyéːye), frequentemente descrito como um herói cultural, é uma figura central, responsável por moldar o mundo e ensinar aos humanos as leis da natureza e da sociedade. Outras figuras mitológicas, como o Monstro (ʔicwéːwɬcix), que Coyote foi desafiado a vencer em uma das histórias tradicionais, têm grande importância na cosmologia nez perce. O Monstro representa forças naturais caóticas que precisam ser enfrentadas para garantir o equilíbrio do mundo. A luta de Coyote contra ele e outras criaturas demoníacas serve como instrução sobre o comportamento ético e o domínio sobre os aspectos físicos e espirituais do mundo. A narrativa mitológica além de explicar o começo do mundo também influencia práticas e rituais que permanecem vivos nas cerimônias e na vida cotidiana dos nez perce.[15]

Transcrição do trecho do mito o Coyote e o Monstro (ʔiceyéːye kaː ʔicwéːwɬcix)
Texto em Nez Perce Tradução em Inglês Tradução em Português[nota 1]
ʔiceyéːye tíkem haːnisáːma, páːnkackilksana kawá Coyote fish-ladder was making, tearing down falls so that Coyote estava construindo uma escada para peixes, derrubando cachoeiras para que
konapí nacóːʔχ hitoláynoʔ titóːqanm hipéʔs. through there salmon will go upstream for the people to eat. através dali o salmão consiga subir o rio para o povo comer.
konóʔ hicapaláːnχ kíːmet peʔsíːnm petuxne, There he is working when someone shouted to him, Lá ele estava trabalhando quando alguém gritou para ele,
"ʔitóʔayn konyá ʔeχeléːleyce? ʔóykala titóːqan “For what in that you are engaging yourself? All the people “Por que você está se envolvendo nisso? Todas as pessoas
cáʔya hiwsíːx ʔicwéːwɬcixnim wáːqoʔ hunéːskus.” gone are. The monster already has done for them." já se foram. O monstro já pegou elas."
"kawóʔ ʔéːteːx wéːcu ʔekúːse ʔekúːse ʔetke titóːqaʔayn “So now I will stop doing because for the people “Então agora eu vou parar de fazer isso porque era para as pessoas
ʔakosáːqa kaː wáːqoʔ ʔeːteːx ʔíːnku kú-se." koníːx I was doing it and now I will also go." From there que eu estava fazendo isso e agora também vou embora." A partir desse momento
hitoláyna, hiwíʔnene tamánmapayi. he went upstream, traveled by the Salmon River country. ele foi rio acima, viajou pelo país do Rio Salmão.

Colonização

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Placa da passagem de Lewis e Clark no platô do Columbia

Em 1805, a expedição de Lewis e Clark foi o primeiro contato documentado com os nez perce na região onde hoje fica o oeste de Idaho, próximo aos rios Clearwater e Snake. Os rios Clearwater e Snake tiveram seus nomes inspirados em termos indígenas, mas com mediação cultural. O Clearwater foi batizado como tradução de "Koos-Koos-Kia" (água clara), enquanto "Snake" (cobra) possivelmente deriva de um gesto indígena mal interpretado como "serpente" por membros da expedição. O nome original nez perce para o rio Snake era "Ki-moo-e-nim", que significa Rio dos Peixes.[16]

A língua nez perce possui alguns estrangeirismos, apesar de ser polissintética, ou seja, uma única palavra pode expressar uma frase inteira (ex.: "pinimʔáːyn" = "eles vieram até o rio"). Isso dificultou a adoção de termos estrangeiros, pois eles precisavam se adequar à estrutura complexa da língua por meio de simplificações ou adaptações.[17]

Rio Clearwater, Idaho.
Estrangeirismos linguísticos no nez perce[18]
Objeto[nota 1] Origem do termo Empréstimo nez perce
Metal Inglês (metal) léptes
Chapéu Francês (chapeau) sapéːlit
Cruz Inglês (cross) kálas
Carta Inglês (letter) líːtas
Açúcar Inglês (sugar) síːkem
Os chefes Joseph, Espelho e Pásssaro Branco na primavera de 1877.

A demarcação do território nez perce envolveu negociações com os Estados Unidos, que começaram com tratados assinados em meados do século XIX. O Tratado de Walla Walla, firmado em 1855, foi um marco importante, definindo os limites da território nez perce na região do noroeste dos Estados Unidos, que reconhecia a soberania nez perce sobre uma área de aproximadamente 7,7 milhões de acres. Os tratados eram escritos em inglês, mas as negociações envolviam intérpretes que traduziam os termos para o nez perce. [15][19]

A Guerra dos Nez Perce, ocorrida em 1877, teve sua origem nas tensões internas geradas pela controvérsia em torno da assinatura de um novo tratado em 1863, o qual previa a redução drástica do território tradicional do povo nez perce e a incorporação ao território americano. As autoridades dos Estados Unidos passaram a pressionar os nez perce para que se deslocassem para uma reserva muito menor, em Oklahoma, o que intensificou o conflito. Sob a liderança de chefe Joseph, o grupo percorreu mais de 2.700 quilômetros através de áreas atualmente compreendidas por Idaho, Montana e Wyoming, com diversos relatos documentando batalhas e manobras de guerrilha que retardaram o avanço das forças militares dos Estados Unidos.[15]

Vídeos externos
Discurso de rendição do chefe Joseph lido em nez perce

(legendas em inglês)

Discurso de rendição do chefe Joseph lido em nez perce

Sem suprimentos suficientes e à beira do colapso, o conflito encerrou-se em 1877, nas proximidades da fronteira com o Canadá.[15]

Termos nez perce do período de colonização e seus significados
Termo em Nez Perce Tradução[nota 1] Contexto de Uso
tiwétek Terra Refere-se ao território tradicional dos Nez Perce.
wéːtes Acordo ou tratado Usado para descrever os tratados assinados com os EUA.
péːwis Fronteira ou limite Refere-se aos limites do território Nez Perce.
tiwétek píːpin Pequena terra Refere-se à redução drástica do território após o Tratado de 1863.
wetíwes híptes Aliados falsos Usado para descrever a desconfiança em relação ao governo dos EUA.
tóːtóːts Guerreiro Refere-se aos guerreiros que protegeram o território e o povo.

História da documentação

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Escritório pioneiro em impressão na língua nez perce em Lapwai, Idaho.

Durante o período da primeira missão presbiteriana, entre 1831 e 1847, os missionários desempenharam um papel crucial na sistematização do nez perce, se dedicando à criação de uma forma escrita para o idioma. Essa época foi determinante para a tradução de hinos, tratos religiosos e trechos da Bíblia para o nez perce, estabelecendo uma norma ortográfica que perduraria até o século XX e servindo de base para a imposição de uma estrutura unificada pelos Estados Unidos.[15][20]

Em 1836, o casal de missonários Henry e Eliza Harmon Spalding chegou à comunidade nez perce da região de Lapwai, em Idaho. Apesar de encontrar inicialmente dificuldades para lidar com a complexidade morfológica e fonética do nez perce por ser um idioma notoriamente inflexionado e com construções verbais que permitiam a expressão de sentenças inteiras em um único verbo, Spalding foi o principal instigador da produção dos primeiros textos impressos na língua. Seu folheto, impresso utilizando um sistema de escrita de sua própria criação, embora repleto de erros e posteriormente rejeitado por outros missionários, detém o mérito de ser o primeiro trabalho publicado em nez perce.[15][20]

Vídeos externos
Histórias bíblicas em nez perce

(com tradução para o inglês)

Histórias bíblicas em nez perce

Posteriormente, missionários com capacitação linguística mais robusta, como o reverendo Asa Bowen Smith e Andrew Rodgers, aprimoraram os métodos de documentação. Smith elaborou a primeira gramática abrangente do nez perce, capturando muitas de suas nuances e complexidades gramaticais. Para a continuidade do trabalho, os missionários optaram por modificar o alfabeto Pickering, (originalmente concebido como um sistema universal para a escrita de diversas línguas indígenas) que, apesar de não representar com precisão a totalidade do sistema fonético do nez perce, demonstrou-se mais funcional e foi rapidamente adotado pelos membros do povo. Esse conjunto de iniciativas não apenas consolidou a forma escrita do nez perce, mas também teve implicações políticas e culturais, ao servir de ferramenta para a unificação e controle dos indígenas durante o processo de assimilação.[15][20]

História do ensino

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Durante a década de 30, os missionários também instituíram escolas na capital administrativa da Reserva que é Lapwai, Idaho, onde eram ministradas aulas de leitura, escrita e aritmética adaptadas à realidade cultural dos nez perce. Esse processo, impulsionado pela criação de um sistema ortográfico, passou a ser ensinado a membros de todas as faixas etárias, marcando o início de uma tradição letrada na comunidade.[21]

Guerreiro nez perce cavalgando

Os relatos da época apontam para variações significativas na frequência escolar, consequência da mobilidade seminomádica dos nez perce. Em determinados períodos, o número de estudantes chegou a atingir cifras expressivas: com registros mencionando até 150 alunos em momentos de maior estabilidade e, por volta de 1845, estimativas sugerindo uma população estudantil de cerca de 300 pessoas.[21] Atualmente, o nez perce continua a ser ensinado em diversas reservas (incluindo Yakima, Nez Perce, Warm Springs e Umatilla). Programas de imersão escolar foram implementados, nos quais o currículo é desenvolvido de forma a integrar práticas culturais tradicionais, como acampamentos de verão, oficinas de narrativa oral, aulas de música e dança, com métodos pedagógicos modernos para o ensino intensivo do idioma. Paralelamente, projetos acadêmicos colaborativos têm resultado na compilação de dicionários bilíngues, gramáticas detalhadas e materiais didáticos audiovisuais, os quais incluem gravações de falantes idosos e a digitalização de histórias orais, preservando não só a pronúncia e entonação características do nez perce, mas também as variações dialetais.[15]

O sistema consonantal da língua nez perce apresenta, entre as plosivas, /p/ (bilabial), /t/ (dental), /c/ (alveolar), /k/ (velar), /q/ (uvular) e /ʔ/ (glotal), sendo todas elas desvozeadas. As fricativas incluem /s/ (alveolar), /x/ (velar), /χ/ (uvular) e /h/ (glotal), também todas desvozeadas. Além disso, o sistema conta com as nasais /m/ (bilabial) e /n/ (dental), e a aproximante lateral /l/ (alveolar). Todas as consoantes que são plosivas e africadas possuem uma variante glotalizada (ejetiva).[22]

Inventário consonantal (pulmônicas) do nez perce[22]
Bilabial Dental Alveolar Labiovelar Palatal Velar Uvular Glotal
Plosiva p t k q ʔ
Ejetiva p' t' k' q'
Africada t͡s
Ejetiva t͡s'
Nasal m n
Fricativa s x χ h
Fricativa lateral ɬ
Aproximante w j
Aproximante lateral l

As consoantes oclusivas desvozeadas /p/, /t/ e /c/ apresentam variação em sua articulação de acordo com o contexto fonético. Quando ocorrem antes de uma vogal, são produzidas sem aspiração; quando precedem outra consoante, apresentam aspiração moderada; e em posição final, antes de uma pausa, tornam-se fortemente aspiradas. Além disso, as oclusivas desvozeadas /p/, /t/, /c/ e /q/ podem ocorrer geminadas, isto é, pronunciadas de forma duplicada e prolongada. Durante a geminação, os articuladores permanecem fechados sem que haja uma liberação completa entre as duas ocorrências, fenômeno denominado "transição fechada". Esse processo influencia a duração e a qualidade do som sem alterar o fonema representado, enquanto /k/ e /ʔ/ não apresentam geminação. Já as aproximantes labiovelar (/w/) e palatal (/j/) podem vocalizar-se parcialmente em posição de coda (final de sílaba), aproximando-se das vogais [u] e [i], respectivamente; no entanto, quando precedidas por consoantes glotalizadas, podem adquirir maior fricção. As consoantes continuantes vozeadas /m/, /n/ e /l/ frequentemente perdem sua sonoridade quando ocorrem antes de um contorno terminal, sendo realizadas como suas versões desvozeadas, o que reflete um processo fonológico característico do idioma.[22]

Alofonia das consoantes nez perce[22]
Fonema Realização Exemplo AFI Tradução[nota 1]
/p/ [p] mitippe AFI/miˈtipːe/ “em um local onde há sabugueiros (elderberries)”
[p=][i] páyn AFI/ˈpaːjn/ “chegar”
[pʰ] [ii] qepsíʔs AFI/qepˈsiʔs/ “mal”
[pʰː] [iii] ʔásqap AFI/ˈʔaːsqapʰː/ “irmão mais novo”, falante homem
/t/ [tʲ] [iv] túːskex AFI/ˈtuːskʲex/ “para cima”
[t] ʔipnattiwáːtit AFI/ʔipnatːiˈwaːtit/ “contando uma história sobre si mesmo”
[t=] téhes AFI/ˈteːhes/ “gelo”
[t̚][v] weqíttise AFI/weˈqitːise/ “eu falo em voz alta”
[tʰ] petkúhtu? AFI/petˈkʰuhtu/ “nós vamos atirar”
[tʰː] lepít AFI/leˈpitʰː/ “dois”
/t͡s/ [t͡sʲ] picpíccim AFI/pit͡sˈpit͡sːim/ “somente abetos vermelhos”
[t͡sʲ=] cílmi AFI/ˈt͡sʲilmi/ “esquilo”
[t͡s] ʔiceyéːye AFI/ʔiˈt͡sejeːje/ “coiote”
[t͡s=] cawíːtx AFI/ˈt͡sawiːtx/ “cenoura selvagem”
[t͡sʰ] líckaw AFI/ˈlit͡sʰkaw/ “nome de lugar”
[t͡sʰː] wálc AFI/ˈwaːlt͡sʰː/ “faca”
/k/ [kʷ] [vi] kimíle AFI/kiˈmiːle/ “larício”
[k] kétim AFI/ˈkeːtim/ “lança”
[kʰ] tewlíːkt AFI/teˈwliːktʰ/ “árvore”
/q/ [qˣ] [vii] hiqqéːwise AFI/hiqˈqeːwise/ “ele está bêbado”
[q] qíːwn AFI/ˈqiːwn/ “homem velho”
[q̚] hiqqéːwise AFI/hiqˈqeːwise/ “ele está bêbado”
[qʰ] náːqc AFI/ˈnaːqt͡sʰ/ “um”
/ɬ/ [t͡ɬ] cúːɬim AFI/ˈt͡suːɬim/ “boi” ou “touro”
[ɬ] ɬéːpɬep AFI/ˈɬeːpɬep/ “borboleta”
/s/' [sʲ] símux AFI/ˈsiːmux/ “carvão vegetal”
[s] sáway AFI/ˈsaːwaj/ “cemitério”
/x/ [xˠ] [viii] ʔatwíyaxqana AFI/ʔatˈwiːjaxqana/ “eu aconselhei ele”
[x] watísx AFI/waˈtiːsx/ “amanhã/ontem”
[χː] [ix] pitχpáːma AFI/pitˈχpaːma/ “sobrinhos/sobrinhas”
[χ] tásχ AFI/ˈtaːsχ/ “gordura”
/h/ [h̩] [x] ʔelwéht AFI/ʔelˈweːht/ “ano”
[h] háːma AFI/ˈhaːma/ “homem/marido”
/m/ [m̥] [xi] wáːʔwam AFI/ˈwaːʔwam̥/ “cabeceira de rios”
[m] mitáːt AFI/miˈtaːt/ “três”
/n/ [ŋ] ʔankáːχalpx AFI/ʔaŋˈkaːχalpχ/ “remova!, descubra!”
[nʲ] núːsnu AFI/ˈnuːsnʲu/ “nariz”
[n̥] ʔiːmn AFI/ˈʔiːmn̥/ “joelho”
[n] náːqc AFI/ˈnaːqt͡s/ “um”
/w/ [w̥] níːckaw AFI/ˈniːt͡skaw̥/ “cesto-tampa”
[w] wúːyce AFI/ˈwuːjt͡se/ “eu fujo”
/j/ [j̥] kúy AFI/ˈkuj̥/ “vá embora!”
[j̝] [xii] konyá AFI/koˈnjaː/ “ali”
[j] yáːcaʔ AFI/ˈjaːt͡saʔ/ “irmão mais velho”
/l/ [lʲ] ʔilúːt AFI/ʔiˈluːtʲ/ “ventre”
[l̥] ʔeχcí´mil AFI/ʔeχˈt͡siːmil̥/ “garganta”
[l] lepít AFI/leˈpit/ “dois”
  1. O sinal de igual simboliza fechamento inicial
  2. simboliza aspiração moderada
  3. simboliza aspiração forte
  4. simboliza palatalização
  5. simboliza sons não liberados
  6. simboliza labialização
  7. simboliza off-glide espirantal, que ocorre quando uma consoante oclusiva não se solta abruptamente, mas desliza para um som fricativo, criando um leve atrito no final da articulação)
  8. simboliza velarização
  9. simboliza som forte
  10. simboliza off-glide semivocálico, que ocorre quando uma vogal desliza suavemente para uma semivogal no final da articulação.
  11. simboliza desvozeamento
  12. simboliza com fricção

As consoantes na tabela apresentam variações alofônicas de acordo com o ambiente fonético em que ocorrem. O fenômeno de não liberação (ex.: [p̚]) ocorre quando a oclusiva não é solta audivelmente ao final, sobretudo antes de outra consoante idêntica. Em alguns casos, como em /q/, a liberação da oclusão se desfaz em um leve atrito fricativo. Em outros contextos, como no /k/ antes de /i/, ocorre a labialização, em que o lábio se aproxima, conferindo ao som um caráter arredondado (por exemplo, [kʷ]). Já a velarização se manifesta quando há um recuo da língua em direção ao véu palatino ou úvula, resultando em um timbre mais posterior, como [xˠ]. Em consoantes como /m/, /n/ e /w/, observa-se a perda de sonoridade em posição final ([m̥], [n̥], [w̥]), enquanto em /j/ há a possibilidade de maior fricção ([y̝]) após /n/ e antes de vogal. No caso de /l/, além de poder ser palatalizada ([lʲ]) em certos ambientes, a consoante também pode se tornar desvozeadas em final de palavra ([l̥]).[22]

Glotalização

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No nez perce, todas as consoantes que não são fricativas possuem uma variante glotalizada. Elas são caracterizadas pela coarticulação simultânea de um fechamento glotal, o que as distingue das consoantes não glotalizadas. Em termos de distribuição, as consoantes glotalizadas oclusivas aparecem principalmente no início e no meio das palavras, enquanto as consoantes glotalizadas contínuas tendem a ocorrer no meio e no final das palavras. De modo geral, as consoantes glotalizadas são menos frequentes do que suas contrapartes não glotalizadas.[22]

Chefe nez perce Joseph em um medalhão

As consoantes glotalizadas são fonêmicas e contrastivas, ou seja, tem valor distintivo no nez perce, podendo causar significados distintos na língua.[22]

Exemplos de pares glotalizados (´)[22]
Fonema Palavra Significado[nota 1]
/p/ páyn "chegar"
/p̓/ p̓áyn "ficar exausto"
/t/ táwn "fazer ferramentas de pedra"
/t̓/ t̓áwn "adivinhar no jogo de varetas"
/k/ tukdx "rígido"
/ḱ/ tuḱdx "reto"


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A língua nez perce possui um inventário vocálico de cinco fonemas: /i/, /u/, /a/, /o/ e /æ/. Cada uma dessas vogais apresenta distinção de comprimento, podendo ser curta ou longa (ː).[23]

Todas as vogais em posição átona tendem a realizar-se como alofones ligeiramente centralizados, com articulação mais relaxada e menos tensa. Após processos de glotalização, as vogais assumem uma qualidade faringealizada, enquanto, em contextos onde ocorrem depois de /h/ ou /ʔ/ e imediatamente antes de /n/, as vogais tônicas costumam ser nasalizadas. Em contextos específicos:[23]

  • /i/ apresenta-se como alta, frontal e não arredondada antes de /j/, possuindo ainda um glide centralizado após as consoantes /q/ ou /x/. Em demais contextos, surge como uma vogal alta frontal um pouco mais baixa.
  • /æ/ realiza-se como média-baixa, frontal e não arredondada após /j/, e torna-se mais baixa (porém ainda frontal e não arredondada) nos outros contextos.
  • /a/ é alta-baixa, central e não arredondada depois de /w/ ou /m/, mas se torna baixa, central e não arredondada nos demais ambientes fonéticos.
  • /o/ é média, posterior e arredondada depois de /w/ ou /m/, e baixa-média, posterior e arredondada em outros contextos. Já /u/ é alta e posterior antes de certos sons (por exemplo, em presença de oclusivas glotais), realizando-se como uma vogal alta ligeiramente mais baixa e posterior nas demais posições.[23]
A tabela a seguir apresenta pares e conjuntos de palavras no nez perce que ilustram contrastes entre diferentes vogais.[23]
Rio Snake no Condado Nez Perce, Idaho
Pares e conjuntos mínimos de variação vocálica[23]
Vogais Palavra Significado[nota 1]
/u/ - /æ/ - /a/ súhuy "gordo"
séhey "verme"
sáhay "ferida" (conjunto imperfeito)
/i/ - /u/ qiyéːsgiyes "aparência malvada"
quyéːsguyes "gaio-azul" (par imperfeito)
/u/ - /o/ qulusqúːlus "caspa"
qolosqóːlos "esôfago" (par imperfeito)
/i/ - /æ/ nikíse (nome de lugar)
nekíse "eu acho"
/i/ - /a/ ʔaːkcíːqa "nós vimos"
ʔaːkcáːqa "eu vi"

O nez perce apresenta um conjunto de traços prosódicos e suprassegmentais que afetam a acentuação, o ritmo e a estrutura fonológica das palavras e frases. Um elemento central é o sistema de acento, que combina intensidade e altura tonal. Em geral, a sílaba tônica coincide com o acento primário, mas certos morfemas dominantes podem “puxar” esse acento para si, resultando em padrões de tonicidade atípicos. Esse mecanismo destaca o papel da morfologia na definição da prosódia.[24]

Outro traço relevante é a oposição entre vogais curtas e longas, associada à duração (cerca de duas moras para as vogais longas) e à maior tensão na sílaba. Muitas vezes, as vogais longas recebem mais ênfase e podem coincidir com a sílaba acentuada, contribuindo para distinguir significados e organizar o ritmo do enunciado.[24]

Além dos segmentos individuais, o nez perce apresenta fenômenos suprassegmentais que afetam a prosódia e a estrutura fonológica das palavras. Esses elementos incluem características como alongamento vocálico, acento, juntura, pausas e contorno terminal, desempenhando um papel fundamental na distinção de significados e na organização do discurso. A seguir, são descritos os principais traços suprassegmentais do idioma:[24]

  • o alongamento vocálico (ː) caracteriza-se por maior tensão na sílaba e por uma duração de aproximadamente duas moras.
  • o acento primário (transcrito como /´/) apresenta tom alto e maior intensidade na sílaba.
  • o junctura fonológico (/+/) se manifesta por meio de um glide que vai de médio para alto na sílaba longa tônica subsequente, além de ocasionar o alofone dental de /n/ quando a consoante seguinte é /k/ ou /q/.
  • a forma de pausa (/,/) inclui uma pausa breve claramente perceptível, de modo que a sílaba longa tônica subsequente inicia-se em tom médio.
  • o contorno terminal (/./) caracteriza-se por uma ligeira queda de tom, acompanhada de alofones desvozeados das consoantes /m/, /n/, /w/, /y/ ou /l/ que as precedem.[24]
Pares mínimos de ocorrência de suprassegmentais[24][nota 1]
Suprassegmental Exemplo 1 Exemplo 2
Alongamento vocálico (ː) ːs ("caldo") sís ("umbigo")
Acento primário (´) wéːcese ("Eu estou montando") weːcéːse ("Eu estou dançando" - par imperfeito)
Juntura fonológicas (+) ʔéː + wíːce ("Você está chorando") ʔewíːce ("Eu estou com sono" - par imperfeito)

Embora a entonação também diferencie tipos de enunciados e segmentos do discurso, a maior parte dos estudos sobre o nez perce se concentra no acento lexical e em interações morfofonêmicas.[24]

Na fonotática do nez perce, a estrutura silábica pode ser descrita como C1V(ː)(C₂)(C₃)(C₄)(C₅). Após uma juntura fonológica (ou fronteira de palavra), pode ocorrer qualquer consoante, exceto continuantes glotalizadas. À parte da exceção, C₁ pode ser qualquer consoante, enquanto V pode ser qualquer vogal. Quando seguida de juntura, C₂ pode ser qualquer consoante, com exceção de /k/, /q/, /h/ e consoantes oclusivas glotalizadas. Além disso, não há encontros consonantais após a fronteira de palavra fonológica.[25]

No que diz respeito aos aglomerados consonantais em posição pré-juntural, sequências de três ou quatro consoantes geralmente incluem, em posição final, aglomerados de duas consoantes permitidos (com exceção de combinações específicas, como qt e qs). Em aglomerados de quatro consoantes, somente em alguns casos as três últimas consoantes formam um grupo final válido. Não se encontram exemplos de geminação ou de consoantes glotalizadas nesses aglomerados, e tanto /p/ quanto as consoantes vozeadas não aparecem como último membro quando sucedem paradas, à exceção de /ʔ/.[25]

C1 V(ː) C2 C3 C4 C5
qualquer consoante −Cglotal qualquer vogal C−k, q, h, Pglotal
C−ɬ, Cglotal C−k, q, h, Cglotal
C−p, t, k, q, Cglotal p, t, c, q, x, y t, c, s, x
p, ʔ, h, x t, c, n, y, w, s p, k, s, x, q t, c, s

Harmonia vocálica

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A harmonia vocálica no nez perce é um fenômeno em que as vogais de certos trechos de palavra (ou de toda a palavra) precisam pertencer a um mesmo conjunto, sofrendo adaptações conforme a presença de marcadores morfofonêmicos específicos. Em várias línguas, a harmonia vocálica se baseia em traços como [±ATR] (raiz da língua avançada) ou [±posterior], nos quais vogais com valores opostos não podem coexistir na mesma palavra. O nez perce, porém, não se enquadra nessas distinções tradicionais. Alguns pesquisadores defendem que o idioma segue um princípio de Máximo Contraste, que é uma proposta dentro da fonologia segundo a qual as vogais (ou outros sons) de uma língua são organizadas de modo a manter diferenças perceptivas claras entre si, de forma a maximizar as distâncias articulatórias e auditivas, garantindo que cada fonema permaneça o mais distinto possível dos demais evitando confusões entre elas.[26]

De forma geral, o nez perce dispõe de dois conjuntos de vogais possíveis em uma sequência harmônica:[26]

Conjuntos vocálicos
Conjunto Vogais
Conjunto 1 /a/, /o/, /i/
Conjunto 2 /æ/, /u/, /i/

Quando uma palavra ou parte dela está sob a influência da harmonia, todas as vogais daquele trecho devem pertencer exclusivamente ao Conjunto 1 ou ao Conjunto 2, sem misturar vogais de ambos. A ocorrência do /i/ nos dois conjuntos acontece porque ela geralmente não é alterada pelas regras de harmonia que transformam /a/ em /æ/ (ou vice-versa) e /o/ em /u/ (ou vice-versa). Quando o falante precisa adequar as vogais de um trecho morfofonêmico a um dos dois conjuntos, /i/ permanece inalterado, o que o caracteriza como “transparente” ou “neutro”.[26]

Essa harmonia é controlada por quatro morfofonemas, "{æ}", "{u}", "{ _ }" e "{-}", que não se realizam como sons independentes, mas determinam quais vogais surgirão em cada contexto.[26]

  • "{æ}"
    1. /a/ se ocorrer junto com { _ } no mesmo trecho harmônico.
    2. /æ/ em todos os demais contextos.

{túːtæʔ} /tóːtaʔ/ "pai" (vocativo)
{ʔíːtæʔ} /ʔíːtæʔ/ "mãe" (vocativo)

  • "{u}"
    1. /o/ se ocorrer junto com { _ } no mesmo trecho harmônico.
    2. /u/ em todos os demais contextos.

{suːyæːpuː} /soːyáːpoː/ "o povo branco"
{tæwæːpuː} /tæwæːpuː/ "o povo de Orofino, Idaho"

  • "{ _ }" e "{-}" são fonemicamente nulos

Em termos práticos, se um trecho morfofonêmico contiver "{æ}" e "{ _ }" simultaneamente, a vogal produzida será /a/ (em vez de /æ/). Da mesma forma, a presença de "{u}" e "{ _ }" no mesmo intervalo harmônico resultará em /o/ (em vez de /u/). Caso "{ _ }" não esteja presente, "{æ}" permanece /æ/ e "{u}" permanece /u/. Já o morfofonema "{-}" interrompe a sequência harmônica, impedindo que essas mudanças se propaguem além dele.[26]

A língua nez perce é usualmente registrada em um sistema fonográfico baseado no alfabeto latino, com escrita horizontal, da esquerda para a direita e de cima para baixo. O alongamento vocálico pode ser indicado por dois-pontos após a vogal (por exemplo, /aː/) ou, alternativamente, pelo dobramento da vogal (por exemplo, “aa”). Já o acento primário (transcrito como ´) marca tom alto e maior intensidade quando colocado sobre vogal, e pode sinalizar glotalização se estiver sobre consoante.[27]

A forma escrita do nez perce tem raízes nos primeiros esforços missionários do século XIX, mas a ortografia fonêmica atualmente adotada consolidou-se ao longo do século XX. As revisões mais significativas ocorreram sobretudo a partir do trabalho de Haruo Aoki, na década de 1970, e foram motivadas pela necessidade de padronizar a escrita em materiais pedagógicos e de pesquisa. Entre as mudanças específicas que se observaram ao longo do tempo, destacam-se:[27]

  • Representação de /ts/: Em ortografias missionárias mais antigas, esse fonema podia ser escrito como “ts” ou até “ch”. Com o avanço dos estudos linguísticos, optou-se por usar a letra c de forma consistente.
  • Indicação de oclusão glotal: Inicialmente, muitos documentos usavam o apóstrofo simples (’) para representar /ʔ/. Com a adoção de símbolos do Alfabeto Fonético Internacional, alguns autores passaram a empregar ʔ. Contudo, ainda há variação: materiais mais recentes, especialmente pedagógicos, podem manter o apóstrofo para maior praticidade.
  • Vogais longas: A princípio, algumas publicações marcavam a vogal longa com um acento agudo (por exemplo, á) ou um acento circunflexo (â). Posteriormente, passou-se a usar vogais duplas (aa, ee, ii, oo, uu) ou dois-pontos após a vogal (aː, eː, iː, oː, uː).
  • Distinção entre /k/ e /q/: Em ortografias antigas, ambos os sons (velar e uvular) eram frequentemente grafados como “k”. Com a análise mais aprofundada do inventário consonantal, introduziu-se o q para /q/, garantindo maior precisão fonêmica.
  • Fricativa lateral surda /ɬ/: Alguns sistemas usavam combinações como “hl” ou “lh” para esse som, ao passo que, em propostas mais recentes (influenciadas pelo AFI), aparece o símbolo ɬ.
  • Marcação de acento e glotalização: Embora o acento primário já fosse assinalado por alguns autores, houve maior padronização ao empregar o acento agudo (´) especificamente sobre vogais para indicar tom alto e intensidade, e sobre consoantes para sinalizar glotalização.[27]

Essas revisões foram feitas gradualmente, em parte por influência das pesquisas de Haruo Aoki (especialmente a partir de Nez Perce Grammar, 1970, e Nez Perce Dictionary, 1994) e em parte pelas necessidades práticas do Nimipuːtímt Language Program, responsável por materiais de ensino e revitalização. Hoje, ainda se observam variações entre as diferentes publicações e comunidades de fala, mas a tendência é manter um sistema fonográfico que represente com fidelidade os sons do nez perce, ao mesmo tempo em que seja funcional para o ensino.[27]

Tabela de grafemas e fonemas do nez perce[27]
Grafema Fonema (AFI) Exemplo de Pronúncia
a /a/ Como “a” de “casa”
/aː/ Como o "aa" de "Staat" ("Estado" em alemão)
e /æ/ Como "a" de "hats" ("chapéus" em inglês)
/eː/ Como "e" de "vêem"
i /i/ Como “i” em “livro”
/iː/ Como "ee" em "sheep" ("ovelha" em inglês)
o /o/ Como "ô" em "avô"
/oː/ Como "o" em "Tokyo" ("Tóquio" em japonês)
u /u/ Como “u” em “lupa”
/uː/ Como "oo" em "food" ("comida" em inglês)
p /p/ Como “p” em “pato”
t /t/ Como “t” em “teto”
k /k/ Como “c” em “casa”
c /ts/ Como "ts" em "tsunami"
s /s/ Como “s” em “sapo”
m /m/ Como “m” em “mesa”
n /n/ Como “n” em “neve”
l /l/ Como “l” em “livro”
w /w/ Como "u" em "água"
y /j/ Como "i" em "pai"
h /h/ Como “h” em “house” ("casa" em inglês)
x /x/ Como “j” em “jamón” ("presunto" em espanhol)
χ /χ/ Como “ch” em “Bach” (alemão)
ɬ /ɬ/ Como o "l" em "tahtli" ("pai" em nahuatl)
ʔ /ʔ/ Como "-" em "uh-oh" (inglês)
No nez perce, o uso do hífen ⟨-⟩ em transcrições é, em geral, um recurso adotado por linguistas para indicar as fronteiras entre morfemas, não sendo parte da ortografia tradicional da língua. No exemplo, o hífen marca onde cada sufixo (por exemplo, -nim, -ne ou -n-a) e prefixo (hi-) é anexado ao radical.[28]

ʔaːyat-nim ciqʔaːmqal-ne hi-ʔyaːχ-n-a

No que diz respeito à categoria de artigos, o nez perce não dispõe de formas equivalentes aos artigos definidos e indefinidos das línguas indo-europeias (por exemplo, “o/a” e “um/uma” em português). Em vez disso, o idioma recorre a estratégias morfológicas e contextuais para indicar referências definidas ou indefinidas, como marcadores de proximidade, posse, pronomes demonstrativos e contexto discursivo.[29]

Pronomes pessoais

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Os pronomes pessoais no nez perce são empregados para referenciar humanos, sendo que animais e objetos são geralmente referenciados por pronomes demonstrativos ou descrições contextuais. Os pronomes podem ser combinados com afixos verbais para indicar relações gramaticais específicas, como sujeito, objeto ou posse.[29]

Pronomes pessoais do nez perce[30]
Pessoa Número Sujeito Intransitivo Sujeito Transitivo Objetivo
1ª Pessoa Singular ʔiːn ʔiːn ʔiːne
Plural Inclusivo kiye kiye kiye
Plural (Neutro) nuːn nuːn nuːn
2ª Pessoa Singular ʔiːm ʔiːm ʔimene
ʔeː ʔeː ʔeː
Plural ʔime ʔime ʔimuːne
ʔeːtx ʔeːtx ʔeːtx
3ª Pessoa Singular ʔipi ʔipnim ʔipne
Plural ʔime ʔimeːm ʔimuːne
Pronomes pessoais do caso oblíquo[31]
1ª Pessoa 2ª Pessoa 3ª Pessoa
Singular ʔíːne ʔimuné ʔipné
Plural núːne ʔimené ʔimuːné

Os pronomes pessoais na língua nez perce são organizados em dois casos principais: reto e oblíquo. No caso reto, os pronomes são usados como sujeitos ou predicados e variam conforme a pessoa (1ª, 2ª, 3ª) e o número (singular e plural), com distinções entre com e sem objeto. A 3ª pessoa não distingue gênero e quando há objeto na frase, ela é adicionada como um prefixo. No nez perce, a forma singular do pronome “você” pode aparecer como ʔíːm/ ʔéː. O segmento ʔíːm não é obrigatório, mas pode ser utilizado para dar ênfase quando aparece junto de ʔéː. A mesma lógica se aplica ao plural, em que se emprega ʔimé. Em perguntas cotidianas, como “Onde você está?”, costuma-se usar míne ʔéː wéːs?, enquanto em abordagens mais enfáticas, como “Onde VOCÊ está?”, emprega-se míne ʔíːm ʔéː wéːs?. Outro ponto importante diz respeito ao pronome “nós”. Quando a ação descrita inclui tanto o falante quanto o interlocutor, utiliza-se kíye. Caso o interlocutor não participe da ação, recorre-se a núːn. No nez perce, a forma verbal já indica quem realiza a ação, quantos indivíduos estão envolvidos e em que tempo ocorre, o que torna desnecessário o uso frequente de pronomes. Ainda assim, em materiais didáticos, costuma-se empregar pronomes de maneira sistemática para reforçar o aprendizado.[31]

Os pronomes ʔeː (2ª pessoa singular) e ʔeːtx (2ª pessoa plural) são indeclináveis, ou seja, mantêm a mesma forma independentemente da função na frase. Eles são semelhantes a clíticos em outras línguas, sendo fonologicamente leves e usados em posições específicas. Por exemplo, "você fez algo" é ʔeː haniːnya, e "vocês estão indo" é ʔeːtx hipteciːx.[31]

A formação do pronome oblíquo ocorre com a adição do sufixo -ne ao pronome do caso reto, que só não recebe acento na 1ª pessoa. As alterações de certas vogais se devem ao processo de harmonia vocálica do nez perce.[31]

Pronomes possessivos

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Na língua nez perce, o sufixo "-nim" é utilizado para marcar posse ou o sujeito que realiza uma ação verbal, incluindo os pronomes pessoais, que viram pronomes possessivos. Este sufixo pode assumir várias formas dependendo da raiz à qual está ligado.[32]

Pronomes possessivos nez perce[33]
Pronome Pessoal Tradução Pronome Possessivo Tradução
ʔíːn Eu ʔíːnim Meu/Minha
ʔíːm / ʔéː Você ʔimím Seu/Sua
ʔipí Ele/Ela ʔipním Dele/Dela
núːn Nós (exclusivo) núːnim Nosso/Nossa
ʔimé / ʔéːtx Vocês ʔiméːm / ʔéːtx Seus/Suas (plural)
ʔimé Eles/Elas ʔiméːm Deles/Delas (plural)

Pronomes demonstrativos

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Na língua nez perce, os morfemas demonstrativos são utilizados para indicar proximidade ou distância em relação ao falante. Existem dois morfemas demonstrativos principais: {kí} (este/esta) e {ku} (esse/essa ou aquele/aquela). Esses morfemas possuem alomorfos que variam de acordo com o ambiente fonológico ou gramatical em que são utilizados.[34]

Tabela de Alomorfos dos Morfemas Demonstrativos[34]
Morfema Significado Ambiente
1[a] 2[b] 3[c] 4[d] 5[e]
{kí} "este/esta" kíː kín kin kin kíː
{ku} "esse/essa" ou "aquele/aquela" kun kún kun kun
  1. Antes de {kek} ou em todos os outros casos não listados
  2. Antes de {pe} (com exceção do caso 4), {ike}, {ki}, {kihik}, {ne}, {nim}, {weeet}.
  3. Antes de {'éyn}.
  4. Antes de {pe mé}.
  5. Antes de {me}.

Pronomes interrogativos

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O nez perce possui pronomes interrogativos, que são usados em perguntas, como itens de polaridade negativa (em contextos de negação) e como expressões de livre escolha.[30]
Homens nez perce
Pronome Indeterminado Tradução
ʔituː o quê
ʔisiː quem/alguém
manaː como/por quê
mine / me onde
mawa quando
mac quantos
malaham quantas vezes
mast quão longo
miniku qual
mimnaʔi de que maneira/como

Esses pronomes são usados principalmente como palavras interrogativas no início da frase. Por exemplo:

  • ʔituː-nm pee-p-tetu íepiep-ne? (O que come borboletas?)
  • mine ʔeː weːk-e? (Onde você estava?)

Quando usados em contextos de negação, os pronomes indeterminados devem seguir a partícula negativa weːtʔu. Por exemplo:

  • weːtʔu ʔisiː-ne kine ʔe-neː-suk-ce (Eu não reconheço ninguém aqui).

Em perguntas sim/não, os pronomes indeterminados geralmente seguem a partícula weːt, mas em alguns casos podem precedê-la. Por exemplo:

  • weːt ʔisiː-ne ʔe-suki-ce? (Você reconhece alguém?)

Além disso, esses pronomes são usados em condicionais e imperativos, onde podem adquirir um significado de livre escolha. Por exemplo:

  • cʔalawi ʔisiː-me hi-kuː-siːx, ʔe-neːs-tiwʔix-nipeːc-wi-se (Se alguém for, eu quero ir também).[35]

No nez perce, os substantivos podem ocorrer sem determinantes (não há artigos definidos ou indefinidos). O sintagma nominal pode incluir demonstrativos, genitivos (posse), numerais e elementos que funcionam lato sensu como adjetivos. Em geral, esses constituintes precedem o substantivo, embora haja alguma flexibilidade na ordem e na concordância de caso e número.[36]

Ordem das palavras nos sintagmas nominais

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A ordem interna mais comum segue a sequência DEM/NUM/GEN > ADJ > SUBST., mantendo o substantivo em posição final. Dessa forma, demonstrativos, numerais, genitivos e adjetivos costumam vir antes do núcleo nominal. Embora esse padrão seja predominante, há casos em que a ordem pode variar, dependendo do contexto discursivo ou da ênfase desejada.[36]

yóx lepit ʔiːn-im ki-kuckuc laːtis

aquele dois 1SG-GEN PL-pequena flor

“Aquelas duas minhas flores pequenas.”[nota 1]

Número e classificação

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Alguns substantivos e a maioria dos adjetivos apresentam marcação de plural. Esse plural pode ocorrer por meio de sufixos (por exemplo, -me em nomes de referentes humanos), reduplicação inicial (em geral, ci-) ou mesmo um prefixo especial (he-, em palavras iniciadas por consoante glotal). Há, porém, diversos substantivos que não exibem marca de plural, ainda que possam desencadear concordância plural no verbo.[36]

O sistema de classificadores do nez perce é relativamente restrito e se manifesta sobretudo nos numerais e quantificadores, destacando entidades humanas com formas como -we. Não há, entretanto, um sistema amplo de gêneros ou classificações, limitando-se essencialmente a essa distinção entre humano e não humano. Ainda assim, encontra-se certa flexibilidade, pois formas sem classificador podem ser usadas com referentes humanos em alguns contextos.[36]

Um exemplo que ilustra a marcação de número e a presença de classificadores em nez perce pode ser visto na frase abaixo, onde “lep-u’” (literalmente “dois-HUM”) classifica o referente como humano, enquanto “lepit” (simplesmente “dois”) aparece sem classificador para um objeto não humano:[36]

Lep-uʔ ha-ham hi-caːp-kilʔaːx-siːx lepit ʔite-tpʔes

(dois-HUM homens 3SUJ-com as mãos-erguer-IMPERF.PL dois caixa)

“Dois homens estão levantando duas caixas.”[nota 1]

Casos gramaticais

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No nez perce, os sintagmas nominais podem receber marcas de caso que refletem um sistema tripartite. Em construções transitivas, o sujeito costuma receber marca ergativa, enquanto o objeto aparece com a marca objetiva; já os sujeitos de orações intransitivas não apresentam marca de caso. O caso ergativo é usualmente marcado por sufixos como -nim, -nm ou -m e o caso objetivo é marcado pelos sufixos -ne, -na ou -a. Assim, o idioma distingue morfologicamente os três papéis gramaticais: sujeito intransitivo, sujeito transitivo e objeto.[36]

As principais marcas de caso descritas são ergativo, objetivo, genitivo, instrumental, benefativo, alativo, locativo, ablativo, comitativo e vocativo. Na maioria das formas nominais, o ergativo e o genitivo coincidem, levando alguns autores a considerá-los como um só caso (chamado “nominativo-possessivo”). Contudo, em pronomes de 1ª e 2ª pessoas, não há marca ergativa, mas existe uma forma genitiva, o que evidencia a distinção funcional entre esses dois casos.[36]

No exemplo abaixo, observa-se a marcação simultânea de ergativo no sujeito (tanto “ki-nm quanto “picpic-nim) e objetivo no objeto (“cuʔyeːm-ne):[37]

ki-nm picpic-nim peː-p-uʔ cu’yeːm-ne
“Este gato (ERG) comerá o peixe (OBJ).”[nota 1]

Por outro lado, em orações intransitivas, como:

hi-pnim-se
“O gato está dormindo.”[nota 1]

O sujeito não recebe marca de caso. A presença ou ausência de marcas ergativas/objetivas permite classificar o nez perce como uma língua de caso tripartite.[36]
A forma genitiva é utilizada para expressar posse ou relações similares. Em grande parte dos nomes, a marca ergativa coincide com a genitiva, mas nos pronomes de 1ª e 2ª pessoas ocorre um descompasso: não há forma ergativa, enquanto a genitiva está presente, como em:[36]

ʔiːn ʔa-lawlimq-sa

“(Eu) estou consertando (algo).”[nota 1]

ʔeː ʔiniːt-pe pay-noʔqa. ʔiːn-im piskis-ne.

“Venha à minha casa. Conserte minha porta.”[nota 1]

No primeiro caso, a 1ª pessoa do singular surge sem marca ergativa mesmo numa construção transitiva. Já no segundo, “’iːn-im exibe a terminação genitiva (-im), indicando posse.[36]

Em alguns contextos, o nome e seus modificadores podem apresentar concordância de caso (e também de número), embora essa concordância seja opcional. Esse fenômeno aparece com adjetivos, numerais e expressões genitivas que podem receber a mesma marca de caso do substantivo que modificam, mas nem sempre isso é necessário.[36]

A classe verbal no nez perce é responsável por expressar ações, processos e estados, funcionando como núcleo oracional. Os verbos podem possuir marcação de tempo, modo, aspecto, pessoa, número e, em certos casos, relações espaciais ou modais.[38]

O nez perce emprega diferentes sufixos (ou combinações de sufixos) para expressar distinções temporais. Três categorias gerais são passado, presente e futuro, mas com subdivisões específicas:

Pretérito simples:
Utiliza o sufixo -n-a (ou variações como -na) para exemplificar um evento ocorrido em tempo remoto.[39]

pitʔiːnʔ hi-ʔyaːχ-n-a picpic

menina 3SUJ-encontrar-PASS gato

“A menina encontrou um gato.”[nota 1]

Presente:
Não possui marcação morfológica de tempo.[40]

hi-pnim

3SUJ “dormir”

“Ele/ela dorme.”[nota 1]

Futuro:
Utiliza o sufixo -nuʔ (ou variações como -uʔ), indicando algo prestes a acontecer. Pode ter sentido de futuro “certo” (não necessariamente modal).[41]

pitʔiːnʔ hi-ʔyaːχ-nuʔ picpic

menina 3SUJ-encontrar-FUT gato

“A menina vai encontrar (está prestes a encontrar) o gato.”[nota 1]

No nez perce, os modos indicam a posição do falante em relação à ação verbal (certeza, dúvida, ordem, desejo etc.).[42]

Indicativo:
Não é marcado por um sufixo exclusivo; geralmente é a forma verbal “básica”, possivelmente acrescida de marcas de tempo e aspecto.[42]

pitʔiːnʔ hi-ʔyaːχ-n-a

menina 3SUJ-encontrar-PASS

“A menina encontrou (indicativo, passado remoto).”[nota 1]

Imperativo:
Utiliza o sufixo -tx, indicando ordens diretas ou exortações.[42]

pewi-tx laːtis-ne

procurar-IMP flor-OBJ

“Procure a flor!”[nota 1]

Optativo:
Utiliza o sufixo -kay. Expressa desejo ou intenção, por vezes traduzido como “que eu/faça...”.[42]

wíː-kay hi-ʔiqcuːp

querer-OPT 3SUJ-beber

“Tomara que ele/ela beba.”[nota 1]

Modalidades não epistêmicas (possibilidade, contrafactual, deôntico):
O on -oʔqa (por vezes grafado -noʔqa ou -uʔqa). Pode ser traduzido como “poderia / deveria / seria possível” em português.[43]

wihne-noʔqa

ir-POSSIBIL

“Eu poderia/deveria ir.” (sem indicar certeza epistêmica, mas sim uma permissão ou possibilidade).[nota 1]

A marcação de aspecto no nez perce descreve como a ação se desenrola no tempo.[44]

Imperfectivo:
Utiliza o sufixo -se. Indica ação em curso, repetida ou não concluída.[45]

hi-ʔyaːχ-se

3SUJ-encontrar-IMPERF

“Ela está encontrando / encontra (regularmente).”[nota 1]

Perfectivo:
Utiliza o mesmo sufixo do tempo passado -n-a. Mostra que a ação foi pontual ou concluída.[46]

hi-ʔyaːχ-n-a

3SUJ-encontrar-PASS/PERF

“Ela encontrou (ação concluída, tempo remoto).”[nota 1]

Prospectivo:
Utiliza o mesmo sufixo do tempo futuro -nuʔ. Indica ação iminente ou futura próxima.[47]

hi-ʔyaːχ-nuʔ

3SUJ-encontrar-PROSP

“Ela vai encontrar (está prestes a encontrar).”[nota 1]

Habitual:
Geralmente associado a formas específicas de sufixos aspectuais (por exemplo, variações de -te ou -cix, dependendo do verbo).[48]

hi-caːp-kilʔaːx-siːx

3SUJ-com.as.mãos-levantar-HAB.PL

“Eles (costumam) levantar (algo) com as mãos repetidamente.”[nota 1]

Ordem da frase

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No nez perce, embora exista certa preferência por uma estrutura próxima de SOV (sujeito–objeto–verbo), o nez perce permite variação considerável na ordem dos constituintes. Esse dinamismo decorre, em grande parte, do uso de marcas de caso que sinalizam as funções sintáticas dos participantes na oração. A ênfase (ou foco) em determinado elemento pode levar à sua realocação na frase, sem prejuízo da compreensão, pois o caso morfológico já indica quem desempenha o papel de agente ou de paciente.[49]

Nas construções em que se deseja dar destaque a um constituinte, é comum deslocá-lo para o início da frase ou usar partículas específicas que realçam sua importância. Do mesmo modo, sentenças negativas, interrogativas, condicionais ou comparativas podem recorrer a estratégias particulares, como partículas ou sufixos, para veicular os significados pretendidos.[49]

ʔaːyat-nim ciqʔaːmqal-ne hi-ʔyaːχ-n-a

mulher-ERG cachorro-OBJ 3SUJ-encontrar-PASS (SOV)

“A mulher (ERG) encontrou o cachorro (OBJ).”[nota 1]

Alguns exemplos de ordem menos comuns são:[49]

kiː péːteʔen-nem qíːw-ne ʔiceyeye-nim

agora 3-falar-LOC-PASS velho-OBJ coyote-ERG (VOS)

“Agora o coiote falou com o velho.”[nota 1]

Kaː háːtya-nm páː·hahma-ne ʔiceyeye-nim

E vento-ERG 3-levar-LOC-PASS coyote-ERG (SVO)

“E o vento levou o coiote embora.”[nota 1]

A língua Nez Perce apresenta um sistema de alinhamento morfossintático que combina características do sistema nominativo-acusativo com traços do sistema ergativo-absolutivo, frequentemente descrito como tripartite. Em orações intransitivas, o sujeito (S) não recebe marca de caso; já em orações transitivas, o sujeito (A) recebe marca ergativa (-nim, -nm ou -m) e o objeto (O) recebe marca objetiva (-ne, -na ou -a). Dessa forma, o sujeito intransitivo não é marcado do mesmo modo que o sujeito transitivo.[7]

Intransitivo:
O sujeito (S) não apresenta marca de caso.[7]

picpic hi-pnim

gato 3SUJ-dormir

“O gato dorme.”[nota 1]

Transitivo:
O sujeito (A) recebe marca ergativa e o objeto (O) é marcado com caso objetivo.[7]

picpic-nim cuuyeem-ne hi-’yax̂-n-a

gato-ERG peixe-OBJ 3SUJ-comer-PASS

“O gato (ERG) comeu o peixe (OBJ).”[nota 1]

Os numerais no nez perce baseiam-se em um sistema decimal (ou seja, com base 10). De modo geral, os números de 1 a 9 possuem formas próprias, e o 10 é expresso por um termo específico (como púːtimt). Para formar valores acima de 10, combina-se o termo “dez” com as unidades correspondentes (por exemplo, púːtimt neːs para “onze”, literalmente “dez um”). Os números entre 20 e 30 seguem a mesma lógica, recorrendo à soma de “duas dezenas” (lepit púːtimt) ou “três dezenas” (mitáːt púːtimt) mais a unidade necessária. Além disso, o número cem pode ser expresso por puːteʔptit (ou mesmo repetições de “dez”) e mil indica “muitas centenas”.[18]

Vídeos externos
Canção infantil sobre números em nez perce
Canção infantil sobre números em nez perce
Numerais em nez perce[18]
Nez perce Português Nez perce Português
1 neːs um 17 púːtimt ʔuynept dezessete
2 lepit dois 18 púːtimt soyept dezoito
3 mitáːt três 19 púːtimt koʔcipt dezenove
4 piːlept quatro 20 lepit púːtimt vinte
5 páːxat cinco 21 lepit púːtimt neːs vinte e um
6 táːqʔit seis 22 lepit púːtimt lepit vinte e dois
7 ʔuynept sete 23 lepit púːtimt mitáːt vinte e três
8 soyept oito 24 lepit púːtimt piilept vinte e quatro
9 koʔcipt nove 25 lepit púːtimt páːxat vinte e cinco
10 púːtimt dez 26 lepit púːtimt táːqʔit vinte e seis
11 púːtimt neːs onze 27 lepit púːtimt ʔuynept vinte e sete
12 púːtimt lepit doze 28 lepit púːtimt soyept vinte e oito
13 púːtimt mitáːt treze 29 lepit púːtimt koʔcipt vinte e nove
14 púːtimt piːlept quatorze 30 mitáːt púːtimt trinta
15 púːtimt páːxat quinze 100 puːteʔptit cem
16 púːtimt táːqʔit dezesseis 1000 ʔiláːqat puːteʔptit mil
Vídeos externos
Saudações em nez perce com tradução para o inglês
Saudações em nez perce com tradução para o inglês
Saudações em nez perce[50]
Nez Perce Português
taʔc meːeywi Bom dia
taʔc halaːχp Boa tarde
taʔc kuleːewit Boa noite
taʔc cikʔeːetinʔ Boa noite (dormir)
Cavalo Appaloosa
Animais em nez perce[51]
Nez Perce Português Nez Perce Português
ʔimes Veado qoqʔāːlo Búfalo
síkʔem Cavalo máːamin Appaloosa (raça de cavalo)
weːptes Águia (dourada) saqʔantáːayo Águia-careca
oaːoaːc Urso-cinzento yāːakaʔ Urso
hìmiːin Lobo wíːpwip Gato selvagem
wewúːkye Alce (macho)

Comida e vocabulário de refeição

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Comidas em nez perce[52]
Nez Perce Português Nez Perce Português
keːetwenʔes Sal pisáːqʔis Pimenta
cicyúːkʔis Açúcar lapatáːat Batata
catʔoːswáːakoʔs Milho katammowáːakoʔs Ervilhas
cawitxwáːakoʔs Cenouras ʔipéːeo Pão
tasqīːin ʔipéːeo Pão frito qaháːsnim wéːeyʔikt Manteiga
cúːuyʔem Peixe nacóʔo Salmão
nukt Carne seheywéːekuʔs Arroz
tamʔáːaminʔ Bolo cepéːepyuǒtinʔ Torta
cemíːitx Mirtilos nickaʔníːickaʔ Morangos
kúːus Água qáːhas Leite
píːsqu Chá láːlx Café
Arbusto de mirtilo, Ohio
Vocabulário sobre refeições em nez perce[53]
Nez Perce Português Nez Perce Português
wéːet hipsāːaqa? Você comeu? ʔeehee! ʔiin wéːewlugse hípt Sim, eu quero comida.
piìʔnim Me dê. hipíːse Estou comendo.
hipstʔúːuyce Estou satisfeito. teqelʔéːekse Estou cheio.
qlʔyáːawca Estou com sede. meːeytipt Café da manhã
halǒpatíːpt Almoço kulewiitiːpt Jantar
teːewʔhípt Lanche noturno isáːaps Lanche (para viagem)

Dias da semana e meses

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Dias da semana e meses em nez perce[54]
Nez Perce Português Nez Perce Português
haɬχpaːawinaqʔit Segunda-feira lepʔtkaaʔawn Terça-feira
mitfaːatkaːʔawn Quarta-feira piːleptkaaʔawn Quinta-feira
paːàxaːtkaaʔawn Sexta-feira haɬχpawitʔaːasx Sábado
haɬχaːawit Domingo wildupup Janeiro
ʔalatanıʔaal Fevereiro lafiltʔal Março
qeqjtʔaɬ Abril ʔapaʔaɬaɬ Maio
tustimasaːtʔalɬ Junho qʔoyxeʔaːɬ Julho
waʔwamaʔayqʔaɬaɬ Agosto pikʔunmaʔayʔqʔaɬaɬ Setembro
hóːplʔaɬ Outubro seχliwʔaɬ Novembro
haʔóqoy Dezembro

Termos sobre clima e estações do ano

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Agasalho nez perce
Termos sobre clima e estações do ano em nez perce[55]
Nez Perce Português Nez Perce Português
ʔicweːeyʔs híːwes Está frio luʔúːqʔic híːwes Está quente (ameno)
ʔiyéːqʔis híːwes Está quente hijykʔíwee Está ensolarado
tʔiːpít hiːwes Está nublado haháːtyaca Está ventando
hiweːegise Está chovendo haykâːat híːwes O céu está limpo
teːmul hitqiːkse Está chovendo granizo hiteːmqiqeykse Está trovejando
hitaqasaʔyóːóːtsa Está relampejando hiʔpeːcese Está nevoeiro
sitqʔiːn Está lamacento ʔenimʔ Inverno
ʔelweːht Primavera taːyam Verão
seχnimʔ Outono

Discurso completo de rendição do chefe Joseph

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O discurso de rendição do chefe Joseph, em 5 de outubro de 1877, expressa com dignidade e eloquência a dor e a resignação dos nez perce após uma resistência heroica contra o governo americano, marcando um momento crucial na história dos povos indígenas norte-americanos.[56]

Discurso completo de rendição do chefe Joseph[56][nota 1]
Nez Perce (Original) Português (Tradução)
ʔewin atimkʔiɬwnisna ipné tímʔíne ecúːkweyneyʔse. Diga ao General Howard que conheço seu coração.
Kex kúːʔus ipním ʔúːyitpe hihíne qoʔc wéːs ʔiːnimpe tímʔnéːpe. O que ele me disse antes, guardei em meu coração.
ʔiːn ʔiláːtwisa piːtuːqéleki. Estou cansado de lutar.
núːnim mimíyoːoat hiwsiːx wáːpciyʔawninʔ. Nossos chefes estão mortos.
ʔapáːswahayqt hiːwes tínʔxníːn. Looking Glass está morto.
Tuoúːloulcʔut hiːwes tínʔxníːn. Toohoolhoolzote está morto.
ʔóːykaloː titílu háːham hiwsiːx titinxníːn. Todos os velhos estão mortos.
Kikéʔ pipyimméːt háːham ʔiːme hiciːx ʔeché ʔiːtqʔo wéːtʔu. São os jovens que agora dizem sim ou não.
Keʔipním (Ollokut) hinéːstelkekéʔyke pipyimméːt haháːmna ʔípíːnkʔa hiːwes tínʔxníːn. Aquele que liderava os jovens guerreiros também está morto.
?icwéːys hiːwes kaː cáːya wisíːx ciːckan. Está frio, e não temos cobertores.
Kikuckuc mamáːyʔac hilqúːukelixtamawcix. As crianças pequenas estão morrendo de frio.
ʔiːnim títóːqan tatoʔósma hipewlaikme méːxsemkex kaː cáːya ewsíːx ciːckan, cáːya hipt. Meu povo, alguns fugiram para as montanhas e não têm cobertores, nem comida.
wéːtʔu ʔlsíːi hinescúːkwece kemíːne hiwsiːx pánlvit hilqúːkeliksix. Ninguém sabe onde eles estão — talvez estejam morrendo de frio.
ʔiːn ʔenesipewʔitipéːecwese ʔiinim mamáːyʔac kaː heonu kamacwana táts ʔanáːacyaono. Quero ter tempo para procurar meus filhos e ver quantos posso encontrar.
pánmaː táts ʔanáːacyaono titinʔxniːspe. Talvez eu os encontre entre os mortos.
Micʔimtx ʔiːnim mimiyóːoat, Ouçam-me, meus chefes,
ʔiːn ʔiláːtwisa Estou cansado.
kaː ʔiːnim timʔine wées kʔóːomayninʔ kaː ʔéːtoewninʔ. Meu coração está doente e triste.
Kakoná hlisemtuks híːwséːetu De onde o sol agora está,
wéːtʔu máːwa héːnekʔe tuːqéːlenuʔ! Não lutarei mais para sempre!

Lista de Swadesh

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A lista de Swadesh da língua nez perce é composta por 100 conceitos fundamentais que aparecem em grande parte das línguas humanas.[18]

Lista de Swadesh em nez perce[18]
Conceito (português) Nez perce Conceito (português) Nez perce
1 eu (1ª pessoa sing.) ʔiːn 51 seios (femininos) ʔiptewʔyex
2 você (2ª pessoa sing.) ʔíːm 52 coração ʔiptikew
3 nós (inclusivo) kiye 53 fígado ʔipcʔéːl
4 este 54 beber (verbo) hi-ʔiqcuːp
5 aquele ku 55 comer (verbo) hi-ʔyaχ
6 quem? ʔisiː 56 morder (verbo) hi-piqʔaw
7 o que? ʔituː 57 ver (verbo) hi-ʔewce
8 não weːtʔu 58 ouvir (verbo) hi-pe-cuːkwe
9 todos ʔoykala 59 saber (fatos) hi-wisiːx
10 muitos ʔilexni 60 dormir (verbo) hi-pnim
11 um neːs 61 morrer (verbo) hi-wisiʔya
12 dois lepit 62 matar (verbo) hi-ʔacix
13 grande himéːqis 63 nadar (verbo) hi-ʔiniyʔaw
14 comprido (não largo) ʔiːnweːnin 64 voar (verbo) hi-ciyʔaw
15 pequeno kuckuc 65 andar (verbo) hi-wiw-saw
16 mulher ʔaːyat 66 vir (verbo) hi-wihne
17 homem (adulto) haːma 67 deitar (verbo) hi-wapnim
18 pessoa (indivíduo) titoːqan 68 sentar (verbo) hi-wicʔeːt
19 peixe cuːyeːm 69 ficar em pé (verbo) hi-wiχ
20 pássaro ʔileχc 70 dar (verbo) hi-weːqʔi
21 cachorro ciqʔaːmqal 71 dizer (verbo) hi-wisiʔ
22 piolho wítikt 72 sol ʔewit
23 árvore tamʔaːlay 73 lua ʔiméːleχ
24 semente tiːmʔes 74 estrela wéːyekset
25 folha hiːmeχ 75 água cʔeːqʔet
26 raiz ʔicʔilept 76 chuva ʔiwʔéːt
27 casca (árvore) wiʔiyχ 77 pedra ʔiptʔam
28 pele (humana) piːχ 78 areia ʔipsič
29 carne ʔipsáːw 79 terra (solo) ʔilept
30 sangue ʔeːwluʔ 80 nuvem ʔipkeːn
31 osso ʔimtiw 81 fumaça ʔipχay
32 gordura ʔikicʔix 82 fogo céːlep
33 ovo taːmʔam 83 cinzas céːlep ʔipχay
34 chifre ʔiniːs 84 queimar (intrans.) hi-ceːlep
35 rabo ʔiyeːs 85 caminho (estrada) ʔiskit
36 pena (grande) ʔispeːt 86 montanha ʔilept himéːqis
37 cabelo (humano) wáːwax 87 vermelho (cor) ʔiskitχ
38 cabeça ʔimuː 88 verde (cor) xayxay
39 orelha ʔipilik 89 amarelo (cor) ʔimeχy
40 olho ʔipcil 90 branco (cor) hiwsiːχ
41 nariz ʔiptiki 91 preto (cor) cimux
42 boca ʔipxχun 92 noite titipqʔaw
43 dente (frontal) ʔipkaːs 93 quente (clima) hiwawʔaχ
44 língua (anatômica) ʔipsiskit 94 frio (clima) hiwiχ
45 garra (unha animal) ʔipsiskʔay 95 cheio ʔispe
46 pé (não perna) ʔipsuːqet 96 novo híːcuy
47 joelho ʔipsuʔlχ 97 bom wisíːw
48 mão ʔipcáːp 98 redondo hi-woχ
49 barriga (abdômen) ʔipqeʔ 99 seco coʔox
50 pescoço ʔipikcel 100 nome ʔiːnéːt
A língua nez perce foi tema do terceiro problema da prova da edição Abya Yala da Escola de Linguística de Outono da Olimpíada Brasileira de Linguística, realizada em Brasília, na qual foi abordada a morfossintaxe da língua.[57]

Notas

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa ab ac ad ae af Trecho livremente traduzido.

Referências

  1. https://www.ethnologue.com/language/nez/
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  14. Pharris & Thomason 2005.
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  16. Lapwai, Mailing Address: Nez Perce National Historical Park 39063 US Hwy 95; Us, ID 83540-9715 Phone: 208-843-7009 Contact. «Lewis and Clark and the Nez Perce - Nez Perce National Historical Park (U.S. National Park Service)». www.nps.gov (em inglês). Consultado em 15 de fevereiro de 2025 
  17. Lapwai, Mailing Address: Nez Perce National Historical Park 39063 US Hwy 95; Us, ID 83540-9715 Phone: 208-843-7009 Contact. «Lewis and Clark and the Nez Perce - Nez Perce National Historical Park (U.S. National Park Service)». www.nps.gov (em inglês). Consultado em 15 de fevereiro de 2025 
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  57. Ivanof, Elena-Tamara (2024). «Nez Perce- Prova da Escola de Linguística de Outono edição Abya Yala» 

Ligações externas

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