Judith Teixeira | |
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![]() circa 1920 | |
Nome completo | Judite dos Reis Ramos Teixeira |
Pseudónimo(s) | Lena de Valois |
Nascimento | 25 de janeiro de 1880 freguesia Ocidental da Sé, Viseu |
Morte | 17 de maio de 1959 (79 anos) Santo Condestável, Lisboa |
Nacionalidade | português(esa) |
Cônjuge | Jaime Levy Azancot (1908-1913) Álvaro Virgílio de Franco Teixeira (1914) |
Movimento literário | Modernismo |
Magnum opus | Decadência |
Judite dos Reis Ramos Teixeira, Judith Teixeira, ou Lena de Valois (freguesia Ocidental da Sé, Viseu, 25 de Janeiro de 1880 — Santo Condestável, Lisboa, 17 de Maio de 1959), foi uma escritora e poetisa portuguesa. Publicou três livros de poesia e um livro de contos, entre outros escritos. Em 1925 lançou a revista Europa, de que saíram três números (Abril, Maio e Junho). Exemplares do seu livro Decadência (1923) foram apreendidos, juntamente com os livros de António Botto (Canções) e Raul Leal (Sodoma Divinizada), e mandados queimar pelo Governo Civil de Lisboa na sequência de uma campanha, liderada pela conservadora Liga de Acção dos Estudantes de Lisboa, contra "os artistas decadentes, os poetas de Sodoma, os editores, autores e vendedores de livros imorais".[1]
Biografia
[editar | editar código fonte]Judith Teixeira (apelido do segundo marido) foi baptizada a 1 de Fevereiro de 1880, na Sé Catedral de Viseu, como filha natural de Maria do Carmo, também natural de Viseu, não constando do assento do baptismo o nome do pai.[2] Em 1907 foi perfilhada pelo alferes de Infantaria Francisco dos Reis Ramos, natural de Beja (freguesia de Cabeça Gorda).[3]. Passou então a usar como nome completo Judith dos Reis Ramos. Era ainda solteira e residia em Lisboa, no número 70 da Rua do Arco do Carvalhão.
A 3 de agosto de 1908, casou primeira vez civilmente, em Lisboa, com o empregado comercial Jaime Levy Azancot (Santa Justa, Lisboa, 27 de março de 1876), filho de António Azancot, natural de Tânger, e de Mary Levy Azancot, natural de Gibraltar. Os dois viviam na Rua Rodrigo da Fonseca; em 8 de Março de 1913 o casamento foi dissolvido por divórcio, tendo a esposa sido acusada de adultério e abandono do domicílio conjugal.[4][5]
Em 22 de Abril de 1914, casou segunda vez no Luso, concelho da Mealhada, com o advogado e industrial Álvaro Virgílio de Franco Teixeira (Lisboa, c. 1888)[6], neto materno do 1.º Visconde da Falcarreira.
Foi na década dos seus quarenta anos, entre 1922 e 1927, que publicou todos os seus livros e dirigiu a revista Europa. Devido à temática lésbica de alguns dos seus poemas, foi atacada violentamente na imprensa conservadora e moralista pelas "vergonhas sexuais" e "versalhadas ignóbeis" que escrevia.[7] Na revista pro-fascista Ordem Nova, em 1926, Marcello Caetano referiu-se ao seu livro Decadência como sendo da autoria "duma desavergonhada chamada Judit Teixeira", regozijando-se que os seus livros tivessem sido apreendidos e queimados em 1923.[8] Em 1927 encontrava-se ausente de Portugal, como se depreende de uma nota inserida no fim do livro Satânia, o último que publicou.[9]
Pouco se sabe acerca dos últimos trinta e dois anos da sua vida, em que chegou a ter um negócio de antiguidades.[10]
Morreu vítima de uremia e esclerose cardiorrenal a 17 de Maio de 1959, aos 79 anos, residindo então em Lisboa, no número 3 da Praceta Padre Francisco, freguesia de Santo Condestável, em Campo de Ourique. Segundo o assento de óbito, morreu viúva de Álvaro Virgílio de Franco Teixeira, sem deixar filhos nem bens e sem fazer testamento. Foi sepultada no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa.[11]
Recepção
[editar | editar código fonte]Sobre Judith Teixeira pronunciou-se Aquilino Ribeiro, em 1923, considerando-a uma "poetisa de valor".[12] Em 1927 José Régio afirmaria que "todos os livros de Judith Texeira não valem uma canção escolhida de António Botto"[13] O crítico João Gaspar Simões louvaria em 1937 a "audácia" da poetisa, considerando-a embora "sem talento".[14] António Manuel Couto Viana referiu-se a Judith Teixeira como "a única poetisa modernista" portuguesa, afirmando sobre as suas poesias: "separando muito trigo de muito joio, penso-as merecedoras de melhor sorte do que o silêncio, a ignorância, a que têm estado votadas."[15]
Homenagens e reconhecimento
[editar | editar código fonte]Em 2015, foi homenageada num colóquio internacional na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. [16]
No ano seguinte, em 2016, o municipio de Viseu em parceria com a editora Edições Esgotadas, criou o Prémio de Poesia Judith Teixeira que distingue obras de poesia escritas em português. [17][18]
Obras
[editar | editar código fonte]Entre as suas obras encontram-se: [19][20]
- Decadência. Poemas (Imprensa Libânio da Silva, Lisboa, 1923).
- Castelo de Sombras. Poemas (Imprensa Libânio da Silva, Lisboa, 1923).
- Nua. Poemas de Bizâncio (Editores J.Rodrigues & C, Lisboa, 1926).
- De Mim. Conferência (Centro Tipográfico Colonial, Lisboa, 1926).
- Satânia. Novelas (Editores J. Rodrigues & C, Lisboa, 1927).
Referências
- ↑ Pedro Teotónio Pereira, o líder da Liga, em entrevista ao jornal A Época, 22 de Fevereiro de 1922. In Raul Leal, Sodoma Divinizada, org. Aníbal Fernandes (Lisboa: Hiena Editora, 1989), p. 92.
- ↑ «Livro de registo de batismos da paróquia Ocidental da Sé - Viseu (1877-1880)». digitarq.arquivos.pt. Arquivo Distrital de Viseu. p. 230 e 230v, assento 21
- ↑ Registo de perfilhação (Viseu, 1908, assento 33, Arquivo Distrital de Viseu). Transcrito em Teixeira, Poemas, p. 227-8.
- ↑ Teixeira, Poemas, p. 228.
- ↑ «Livro de registo de casamentos da Administração do 4.º Bairro de Lisboa (1908-1911)». digitarq.arquivos.pt. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. p. fls. 12v, 13 e 13v, assento 25
- ↑ Registo de casamento (Luso, 1914, livro 4, registo 66, Conservatória do Registo Civil de Mealhada). Transcrito em Teixeira, Poemas, pp. 228-29.
- ↑ Revolução Nacional, no1, 21 de Junho de 1926, p. 1. Transcrito em Teixeira, Poemas, p. 246.
- ↑ Marcello Caetano, " 'Arte' sem moral nenhuma", Ordem Nova, n.º 4-5, Junho-Julho de 1926, p. 156.
- ↑ Satânia. Novelas (Lisboa: Livraria Rodrigues e Companhia, 1927).
- ↑ António Manuel Couto Viana, "O investigador da literatura alto-minhota Pedro da Silveira na minha memória", Cadernos Vianenses, 42, 2008, pp. 127-146.
- ↑ «Livro de registo de óbitos da 5.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa (1959-01-01 - 1959-06-22)». digitarq.arquivos.pt. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. p. fls. 166v, assento 332
- ↑ "A moral no teatro. O que diz o escritor Aquilino Ribeiro", Diário de Lisboa, 20 de Julho de 1923, p. 4
- ↑ José Régio, "Literatura viva", Presença, nº 1, 10 de Março de 1927, p. 2.
- ↑ João Gaspar Simões, "Os livros da semana", em "Suplemento Literário" do Diário de Lisboa, 29 de Janeiro de 1937, p. 4.
- ↑ António Manuel Couto Viana, in Coração Arquivista, Lisboa, Verbo, 1977, pág. 198-208.
- ↑ «Colóquio Internacional em Homenagem a Judith Teixeira». Plataforma 9. Consultado em 11 de fevereiro de 2022
- ↑ Seara.com. «Prémio de Poesia Judith Teixeira». Câmara Municipal de Viseu. Consultado em 11 de fevereiro de 2022
- ↑ «Prémio de Poesia Judith Teixeira». Edições Esgotadas. 6 de fevereiro de 2016. Consultado em 11 de fevereiro de 2022
- ↑ «Judith Teixeira | Wook». www.wook.pt. Consultado em 11 de fevereiro de 2022
- ↑ «Obras de Judith Teixeira presentes no catálogo da Biblioteca Nacional de Portugal». catalogo.bnportugal.gov.pt. Consultado em 11 de fevereiro de 2022