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Eucalypteae

Como ler uma infocaixa de taxonomiaEucalypteae
A flor vistosa de Eucalyptus macrocarpa, um exemplo da diversidade dentro da tribo.
A flor vistosa de Eucalyptus macrocarpa, um exemplo da diversidade dentro da tribo.
Classificação científica
Reino: Plantae
Clado: Traqueófitas
Clado: Angiospermas
Clado: Eudicotiledôneas
Clado: Rosídeas
Ordem: Myrtales
Família: Myrtaceae
Subfamília: Myrtoideae
Tribo: Eucalypteae
Peter G. Wilson (2005)[1]
Gêneros

Eucalypteae é uma tribo de plantas com flor pertencente à família Myrtaceae, nativa predominantemente da Australásia. Este grupo é mundialmente reconhecido por incluir o gênero Eucalyptus, que domina a paisagem arbórea da Austrália e possui imensa importância ecológica e econômica. A tribo, no entanto, é mais diversa, compreendendo sete gêneros e mais de 900 espécies, que variam desde árvores emergentes de florestas tropicais úmidas até os "mallees" (eucaliptos arbustivos com múltiplos troncos) de zonas áridas.[1]

A classificação e a filogenia da tribo têm sido objeto de intensos estudos e debates científicos, especialmente com o advento de técnicas de sequenciamento de DNA. As pesquisas modernas revelaram uma história evolutiva complexa, marcada por uma origem no antigo supercontinente Gondwana, diversificação impulsionada por mudanças climáticas e fogo, e intrincadas relações coevolutivas com a fauna nativa.[2]

Membros desta tribo são caracterizados pela presença de um hipanto lenhoso que se desenvolve em um fruto tipo cápsula (conhecido popularmente como "gumnut") e pela produção de óleos essenciais em glândulas secretoras presentes nas folhas e em outras partes da planta.[1]

Taxonomia e Filogenia

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A compreensão das relações dentro de Eucalypteae evoluiu significativamente desde as primeiras classificações baseadas puramente na morfologia. Estudos filogenéticos moleculares confirmaram que a tribo é um grupo monofilético, dividido em dois clados principais: os gêneros de florestas úmidas (linhagens relictas) e o grupo esclerófilo australiano, muito mais especioso.[3]

História da Classificação

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A história taxonômica da tribo é marcada pelo debate sobre a circunscrição de Eucalyptus. Por mais de um século, Eucalyptus incluía uma vasta gama de morfologias.

  • A separação de Angophora': O gênero Angophora foi o primeiro a ser reconhecido como distinto de Eucalyptus por A.L. de Jussieu em 1789. Sua principal característica distintiva são as flores com pétalas e sépalas livres, em contraste com o opérculo (ou caliptra) dos Eucalyptus.
  • O debate sobre Corymbia': Em 1995, os botânicos Ken Hill e Lawrie Johnson propuseram a elevação do subgênero Corymbia (os "bloodwoods" e "ghost gums") ao nível de gênero.[4] Eles argumentaram que as diferenças morfológicas — como a inflorescência em corimbo, a casca tessalada e a anatomia da semente — eram suficientes para justificar a separação. Essa classificação foi inicialmente controversa, com outros especialistas, como Ian Brooker, defendendo que Corymbia deveria permanecer como um subgênero de Eucalyptus.[5] No entanto, dados moleculares subsequentes confirmaram que Corymbia e Angophora são mais aparentados entre si do que qualquer um deles é de Eucalyptus sensu stricto.[3] Hoje, o reconhecimento de Corymbia como um gênero distinto é amplamente aceito pela maioria dos herbários e botânicos australianos.[6]

Relações Filogenéticas

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Estudos baseados em marcadores de DNA nuclear e de cloroplasto revelaram a seguinte estrutura de relações. Arillastrum, da Nova Caledônia, é frequentemente posicionado como o clado irmão de todos os outros membros da tribo.[2] Os outros três gêneros de florestas úmidas (*Stockwellia*, *Eucalyptopsis* e *Allosyncarpia*) formam um clado monofilético.[7] Este grupo, por sua vez, é irmão do grande clado esclerófilo que contém *Angophora*, *Corymbia* e *Eucalyptus*.

A filogenia dentro do clado esclerófilo é complexa. Dados de DNA nuclear (ITS) mostram claramente que Angophora e Corymbia formam um grupo monofilético, que é irmão de Eucalyptus.[3] No entanto, análises de DNA de cloroplasto (cpDNA) apresentam um resultado incongruente, onde algumas espécies de Corymbia se agrupam com Angophora, enquanto outras se agrupam com Eucalyptus. A explicação mais provável para essa incongruência é a introgressão (transferência de genes por hibridização) antiga do genoma do cloroplasto de Eucalyptus para algumas linhagens de Corymbia.[8]

Cladograma Simplificado de Eucalypteae

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O cladograma abaixo representa as relações mais prováveis baseadas em dados de DNA nuclear:[3][2]

Eucalypteae
Clado Esclerófilo

Eucalyptus

Clado Angophora/Corymbia

Angophora

Corymbia

Clado de Florestas Úmidas

Stockwellia

Allosyncarpia

Eucalyptopsis

Arillastrum

Descrição dos Gêneros

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A tribo é composta por sete gêneros reconhecidos:[1]

Gênero Autoridade Nº de Espécies (aprox.) Distribuição Nativa Descrição Chave
Allosyncarpia S.T.Blake 1 Austrália (Arnhem Land, Território do Norte) Árvore de floresta de monções, formando densos povoamentos. Folhas opostas. Sensível ao fogo.[9]
Angophora Cav. 13 Leste da Austrália Conhecidos como "apple-gums". Flores com pétalas e sépalas livres (sem opérculo). Casca geralmente áspera e fibrosa.
Arillastrum Pancher ex Baill. 1 Nova Caledônia Árvore de floresta úmida em solos ultramáficos. Sementes possuem um arilo vestigial. Considerado um elo evolutivo primitivo.
Corymbia K.D.Hill & L.A.S.Johnson ~113 Austrália e sul da Nova Guiné "Bloodwoods" e "ghost gums". Inflorescências em corimbo. Frutos lenhosos em forma de urna. Casca frequentemente tessalada ou lisa.
Eucalyptopsis C.T.White 2 Nova Guiné e Ilhas Molucas Árvores de floresta tropical úmida. Relação próxima com Allosyncarpia e Stockwellia.
Eucalyptus L'Hér. ~750 Austrália, Nova Guiné, Indonésia e sul das Filipinas Gênero dominante e diverso. Flores com opérculo. Inclui as árvores mais altas do mundo (E. regnans). Enorme variação de casca, folha e fruto.
Stockwellia D.J.Carr, S.G.M.Carr & B.Hyland 1 Austrália (Nordeste de Queensland) Árvore emergente de floresta tropical, com distribuição muito restrita. Flores grandes, sem opérculo, com estames vermelhos.[10]

Morfologia Comparativa

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A distinção entre os gêneros de Eucalypteae baseia-se em um conjunto de características morfológicas. A mais notável é a estrutura da flor, mas outras características do caule, folhas e frutos são cruciais.[1]

  • Opérculo (Caliptra): Esta é a característica mais icônica do gênero Eucalyptus e Corymbia. É uma estrutura em forma de "tampa" que protege os estames e o pistilo durante o desenvolvimento do botão floral. O opérculo é formado pela fusão das pétalas e/ou sépalas e se desprende na antese (abertura da flor). Em contraste, Angophora, Stockwellia e Arillastrum possuem pétalas e sépalas livres, como a maioria das outras plantas com flor.
  • Casca (Ritidoma): A diversidade de cascas nos eucaliptos é notável e fundamental para a identificação em campo. Os principais tipos incluem:[11]
    • Lisa (Gum bark): A casca é decorticante (desprende-se anualmente) em fitas, placas ou flocos, revelando uma nova superfície lisa e colorida (ex: Corymbia aparrerinja, Eucalyptus deglupta).
    • Fibrosa (Stringybark):Consiste em fibras longas e entrelaçadas, persistente no tronco (ex: Eucalyptus obliqua).
    • Casca de Ferro (Ironbark): Dura, profundamente sulcada e impregnada com resina escura (kino), que a torna resistente ao fogo (ex: Eucalyptus sideroxylon).
    • Tessalada (Box ou Bloodwood): A casca persistente é fragmentada em pequenas placas poligonais, como um mosaico (ex: Corymbia tessellaris).
  • Inflorescência: Em Eucalyptus, as flores estão tipicamente dispostas em umbelas axilares simples. Em Corymbia, essas umbelas são agrupadas em inflorescências compostas terminais, formando um corimbo ou panícula, o que posiciona as flores na parte externa da copa da árvore.[4]
  • Filotaxia Foliar: Muitos membros da tribo exibem heterofilia, onde as folhas juvenis, intermediárias e adultas têm formas e orientações diferentes. As folhas juvenis são frequentemente opostas, sésseis e dispostas horizontalmente, enquanto as folhas adultas são alternas, pecioladas e pendentes verticalmente.
  • Fruto: O fruto é sempre uma cápsula lenhosa. Sua forma, tamanho, a posição do disco e o número de valvas são características diagnósticas importantes para a identificação de espécies. Em Angophora, os frutos são proeminentemente nervurados.

Tabela Comparativa (Gêneros Esclerófilos)

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Característica Angophora Corymbia Eucalyptus
Perianto (Flor) Pétalas e sépalas livres Opérculo (caliptra) Opérculo (caliptra)
Inflorescência Corimbos/panículas terminais Corimbos/panículas terminais Predominantemente umbelas axilares simples
Filotaxia das Folhas Sempre opostas Opostas a alternas Juvenis opostas, adultas geralmente alternas
Glândulas na Medula do Caule Ausentes Ausentes Presentes em muitas espécies (subgênero Symphyomyrtus)
Casca Típica Fibrosa ("apple-gums") ou lisa Tessalada ("bloodwoods") ou lisa ("ghost gums") Extremamente variável (lisa, fibrosa, sulcada, etc.)

História Evolutiva e Paleobotânica

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Origem Gondwaniana e Diversificação

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A tribo Eucalypteae tem suas raízes no supercontinente Gondwana. A divergência entre Eucalypteae e suas tribos irmãs (como Leptospermeae) data do final do Cretáceo, há cerca de 65-70 milhões de anos.[2] A presença de gêneros relictos em florestas úmidas da Austrália, Nova Caledônia e Nova Guiné representa as linhagens mais antigas do grupo, que sobreviveram em refúgios climaticamente estáveis.[7]

A grande radiação adaptativa dos gêneros esclerófilos, especialmente Eucalyptus, está intimamente ligada à história climática e geológica da Austrália. A separação do continente da Antártica e seu deslocamento para o norte levaram a uma progressiva aridificação e a um aumento da sazonalidade e da frequência de incêndios.[12] Esses fatores ambientais foram os principais motores da evolução das características de tolerância à seca e ao fogo que definem os eucaliptos modernos. Estima-se que a diversificação explosiva do gênero Eucalyptus tenha ocorrido nos últimos 20-30 milhões de anos.

Registro Fóssil

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O registro fóssil confirma a origem gondwaniana da tribo. Surpreendentemente, os fósseis mais antigos e bem preservados de Eucalyptus não foram encontrados na Austrália, mas na Patagônia, Argentina. Em 2011, foi descrito o fóssil de frutos, folhas e flores de uma espécie extinta, datada do Eoceno Inferior (cerca de 52 milhões de anos atrás), encontrada na Laguna del Hunco. Este achado, denominado Eucalyptus patagonica, prova que o gênero teve uma distribuição muito mais ampla no passado, abrangendo partes do Gondwana que hoje são a América do Sul.[13]

Fósseis de pólen e folhas atribuídos a Myrtaceae e, possivelmente, a Eucalypteae, também foram encontrados na Antártida, Nova Zelândia e Austrália, datando de períodos semelhantes. O registro fóssil patagônico também é notável por apresentar marcas de herbivoria por insetos idênticas às encontradas em espécies modernas, indicando uma interação coevolutiva de longa data.[13]

Distribuição e Ecologia

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A distribuição natural da tribo está centrada na Austrália, que abriga a totalidade das espécies de Angophora, quase todas as de Corymbia e a vasta maioria das de Eucalyptus. Apenas algumas espécies de Eucalyptus se estendem naturalmente para o norte, na Nova Guiné, leste da Indonésia e no extremo sul das Filipinas. Os gêneros de florestas úmidas têm distribuições muito mais restritas e disjuntas, atuando como janelas para o passado evolutivo do grupo.[1]

Adaptações ao Fogo

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O fogo é uma força ecológica dominante na maior parte da Austrália, e os gêneros Eucalyptus, Corymbia e Angophora desenvolveram um conjunto notável de adaptações para sobreviver e até mesmo prosperar em ambientes propensos a incêndios.[14]

  • Gemas Epicórmicas: São gemas dormentes localizadas profundamente sob a casca do tronco e dos galhos. Protegidas pelo efeito isolante da casca, elas brotam após a passagem do fogo, permitindo que a árvore regenere sua copa rapidamente.
  • Lignotúber: Uma estrutura lenhosa inchada na base do tronco, parcial ou totalmente subterrânea. Contém numerosas gemas dormentes e uma grande reserva de carboidratos. Se a parte aérea da árvore for destruída pelo fogo, o lignotúber rebrota vigorosamente a partir do nível do solo. Esta adaptação é comum em espécies de áreas com incêndios frequentes e intensos.
  • Serotinia: Muitas espécies possuem frutos lenhosos que permanecem fechados na árvore por anos. O calor do fogo provoca a abertura dessas cápsulas, liberando as sementes em um solo recém-fertilizado por cinzas e com menor competição.
  • Inflamabilidade: Paradoxalmente, muitas espécies de eucalipto são altamente inflamáveis. A casca fibrosa e a grande quantidade de serapilheira rica em óleos voláteis promovem a propagação do fogo. Acredita-se que esta seja uma estratégia competitiva para eliminar espécies menos tolerantes ao fogo.[15]

Polinização e Interações com a Fauna

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A polinização em Eucalypteae é quase exclusivamente zoofílica (realizada por animais). As flores geralmente produzem grandes quantidades de néctar e pólen para atrair uma ampla gama de polinizadores.[16]

  • Aves: Melifagídeos (honeyeaters) e lorikeets são polinizadores cruciais para muitas espécies com flores grandes e vistosas, como as de Corymbia.
  • Insetos: Abelhas nativas, besouros, moscas e vespas são polinizadores importantes, especialmente para espécies com flores menores.
  • Mamíferos: Pequenos marsupiais, como possums e planadores, e morcegos frugíveros visitam as flores em busca de néctar, contribuindo para a polinização noturna.

A relação com herbívoros é outro aspecto central da ecologia da tribo. O exemplo mais famoso é a dieta especializada do coala (Phascolarctos cinereus), que se alimenta quase exclusivamente de folhas de um número limitado de espécies de Eucalyptus. As folhas de eucalipto são pobres em nutrientes e ricas em compostos de defesa, como óleos essenciais e polifenóis (incluindo compostos floroglucinóis formilados, ou FPCs), que são tóxicos para a maioria dos outros mamíferos. A evolução de um sistema digestivo especializado permitiu que os coalas explorassem este nicho alimentar.[17]

Importância Econômica e Etnobotânica

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A tribo Eucalypteae, e em particular o gênero Eucalyptus, tem uma importância econômica global massiva.

Usos Industriais e Comerciais

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  • Madeira e Celulose: Eucaliptos são as árvores de madeira de lei mais plantadas no mundo. Devido ao seu rápido crescimento e à qualidade da sua fibra, são a principal matéria-prima para a produção de celulose para papel em muitos países, incluindo Brasil, Portugal e África do Sul.[18] A madeira é usada para construção, dormentes, postes, móveis e produção de carvão vegetal.
  • Óleos Essenciais: O óleo de eucalipto, rico em compostos como o eucaliptol (1,8-cineol), é extraído principalmente de espécies como Eucalyptus globulus e Eucalyptus polybractea. Tem vastas aplicações na indústria farmacêutica (descongestionantes, antissépticos, anti-inflamatórios), na cosmética e como solvente industrial.[19]
  • Apicultura: As flores ricas em néctar de muitas espécies de Eucalyptus e Corymbia são uma fonte fundamental para a produção de mel de alta qualidade, com sabores e propriedades distintas dependendo da espécie floral.[20]
  • Horticultura: Muitas espécies, como Corymbia ficifolia (com suas flores vermelhas vibrantes) e Eucalyptus caesia (com seus ramos e frutos prateados), são valorizadas como árvores ornamentais em parques e jardins em todo o mundo.

Usos Indígenas

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Os povos aborígenes da Austrália possuem um conhecimento profundo e milenar sobre os usos das plantas da tribo Eucalypteae.[21]

  • Medicina: As folhas eram esmagadas e inaladas para tratar congestão nasal e resfriados. Infusões de folhas eram usadas como antissépticos para feridas. O kino (resina) de "bloodwoods" era usado topicamente como um adstringente poderoso.
  • Ferramentas e Abrigo: A madeira era usada para fazer lanças, bumerangues e didgeridoos. A casca de certas espécies era removida em grandes placas para construir abrigos temporários e canoas.
  • Água e Comida: As raízes de algumas espécies de mallee em regiões áridas eram escavadas como fonte de água. O néctar das flores era consumido diretamente ou misturado com água para fazer uma bebida doce.

Eucaliptos como Espécies Invasoras

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Fora de sua área de distribuição natural, algumas espécies de Eucalyptus demonstraram ser invasoras agressivas. Em locais como a Califórnia, África do Sul e Brasil, plantações de eucalipto podem escapar para ecossistemas naturais. Os principais impactos negativos incluem:[22]

  • Alto consumo de água: Podem rebaixar o lençol freático, afetando a disponibilidade de água para outras plantas e para o consumo humano.
  • Alelopatia: A liberação de compostos químicos pela serapilheira pode inibir a germinação e o crescimento de plantas nativas.
  • Alteração do regime de fogo: Aumentam a carga de combustível e a inflamabilidade da paisagem.
  • Baixa biodiversidade associada: A fauna local muitas vezes não está adaptada para usar os eucaliptos como alimento ou abrigo, resultando em ecossistemas empobrecidos em comparação com a vegetação nativa.

Estado de Conservação

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Apesar da aparente abundância de algumas espécies, muitas outras dentro da tribo Eucalypteae enfrentam sérias ameaças. Uma avaliação global da Lista Vermelha da IUCN concluiu que quase 25% de todas as espécies de eucaliptos (incluindo Angophora e Corymbia) estão ameaçadas de extinção.[23]

Ameaças Gerais

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  • Perda de Habitat: O desmatamento para agricultura, desenvolvimento urbano e mineração é a principal ameaça para muitas espécies com distribuições restritas.
  • Alteração do Regime de Fogo: A supressão de incêndios em algumas áreas e o aumento da frequência e intensidade de incêndios em outras (devido às mudanças climáticas) podem interromper os ciclos de vida de muitas espécies.
  • Mudanças Climáticas: O aumento das temperaturas e a maior frequência de secas extremas estão colocando as populações sob estresse fisiológico, especialmente aquelas no limite de sua área de distribuição.[23]

A Ferrugem da Murta (Austropuccinia psidii)

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Uma das ameaças mais graves e recentes é a ferrugem da murta, um fungo patogênico originário da América do Sul que foi detectado pela primeira vez na Austrália em 2010. Este patógeno ataca tecidos jovens (folhas, caules e flores) de plantas da família Myrtaceae.

  • Impacto: A ferrugem da murta pode causar deformação, necrose e morte de plantas hospedeiras. É particularmente devastadora para as linhagens de floresta úmida da tribo, como Allosyncarpia e Stockwellia, que não coevoluíram com o patógeno.[24]
  • Consequências Ecológicas: A doença tem o potencial de causar a extinção de espécies suscetíveis e alterar drasticamente a estrutura e a função de ecossistemas inteiros onde as Myrtaceae são dominantes. A conservação ex situ em bancos de sementes e jardins botânicos tornou-se uma estratégia de emergência crucial para as espécies mais vulneráveis.[24]
  1. a b c d e f Wilson, Peter G. (2011). «Eucalypteae». In: K. Kubitzki. The Families and Genera of Vascular Plants, Volume X: Flowering Plants. Eudicots. Heidelberg: Springer Science & Business Media. pp. 212–271. ISBN 978-3-642-14397-7 
  2. a b c d Thornhill, A. H.; et al. (2012). «A dated molecular phylogeny of the Myrtaceae reveals a Gondwanan origin with deep crown divergences and multiple radiations». American Journal of Botany. 99 (8): 1348–1363. doi:10.3732/ajb.1100358 
  3. a b c d Parra-O, C.; et al. (2009). «On the relationships of Eucalyptus and Angophora (Myrtaceae)». Molecular Phylogenetics and Evolution. 50 (1): 6–15. doi:10.1016/j.ympev.2008.10.003 
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  5. Brooker, M. I. H. (2000). «A new classification of the genus Eucalyptus L'Her. (Myrtaceae)». Australian Systematic Botany. 13 (1): 79-148 
  6. «Australian Plant Name Index (APNI) - Eucalypts». Australian National Botanic Gardens. Consultado em 10 de junho de 2025 
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