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Açafrão-da-terra

Como ler uma infocaixa de taxonomiaAçafrão-da-Índia
Curcuma longa
Curcuma longa
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Liliopsida
Subclasse: Zingiberidae
Ordem: Zingiberales
Família: Zingiberaceae
Género: Curcuma
Espécie: C. longa
Nome binomial
Curcuma longa
Linnaeus

Curcuma longa comummente conhecida como curcuma (português europeu) ou cúrcuma (português brasileiro) [1] (designação que partilha com outras espécies do género Curcuma), é uma planta herbácea da família do gengibre (Zingiberaceae), originária do Sudeste da Ásia (mormente Índia e Indonésia). Da sua raiz seca e moída, obtém-se a especiaria homónima, utilizada como condimento ou corante de cor amarela e brilhante, na culinária e no preparo de medicamentos.[2]

Não deve ser confundido com a especiaria extraída das flores de Crocus sativus, comummente conhecida como açafrão.

Além de «curcuma» esta espécie é ainda conhecida pelos seguintes nomes comuns: açafroeira (não confundir com a espécie Crocus sativus, que partilha este nome)[3], açafroeira-da-índia[4](também grafada açafroeiro-da-índia[5]), açafrão-da-índia[6] (também grafada açafrão-das-índias[7]) açafrão-da-terra[8] e turmérico.[9]

O nome «curcuma»[10] entra na língua portuguesa por via do árabe كركم (kurkum), que por seu turno provém do sânscrito kuṅkuma.

Os nomes «açafroeira», «açafrão-da-terra», «açafrão-da-índia», «açafroeira-da-índia», «açafroeiro-da-índia» e «açafrão-das-índias» provêm, por um lado, das propriedades da raiz desta planta que, tal como o açafrão comum (Crocus sativus), tinge a comida de tons amarelados.[2] Quanto às alusões à Índia (ou Índias), nalguns destes nomes estas devem-se ao facto de esta espécie provir do sudeste asiático (designado historicamente durante o período colonial como «Índias», como sinédoque)[7], tendo na Índia, por excelência, o seu principal produtor e consumidor histórico.[2]

A palavra «turmérico», por sua vez, entra na língua portuguesa por via do inglês "turmeric", já no séc. XX[11], tratando-se de corruptela do étimo inglês antigo turmerite[12], provindo este por sua vez do francês «terre-mérite», o qual, por seu turno, espelha o étimo latino terra meritare, ou "terra meritória".[13]

Distribuição

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Esta espécie é natural do Sudeste asiático, marcando presença na Índia, Indonésia, Malásia, Vietname e Tailândia.[14][15]

Presentemente, já não há conhecimento desta espécie ocorrer de modo puramente natural, havendo, porém, relatos do seu aparecimento subespontâneo em bosques de teca do Leste de Java. [14]

É uma planta perene com ramificações laterais compridas, capaz de crescer até um metro de altura, contando com o rizoma subterrâneo. [14]

A parte utilizada da planta é o rizoma (caule parcialmente ou totalmente subterrâneo, horizontal, com reservas, capaz de formar raízes, folhas e flores/fruto), que externamente apresenta uma coloração esbranquiçada ou acinzentada e internamente amarelada.[15]

Do caule curto que desponta do rizoma saem as folhas e as hastes florais.[14] As folhas aglomeram-se em grupos de 6 a 10 folhas, podendo cada uma delas orçar entre os 30 e os 50 centímetros.[14]

O açafrão-da-índia reproduz-se por pedaços do rizomas que apresentam gemas (olhos) com plantio em solo argiloso, fértil e de fácil drenagem.

Depois da planta adaptada ao local, alastra-se, pois o rizoma principal emite numerosos rizomas laterais.

É uma planta extremamente resistente e, por isso, difícil de ser destruída.

A colheita deve ocorrer na época em que a planta perde a parte aérea, depois da floração. Nesta fase, os rizomas apresentam pigmentos amarelos intensos, que podem manchar a pele ou o tecido de quem os colha indelevelmente, sendo que o contacto com a pele também pode originar reacções alérgicas nalgumas pessoas.[16]

A curcuma é uma planta dos trópicos húmidos e subtropicais, encontrando-se a altitudes de até 2.000 metros.[16] Tende a crescer melhor em áreas onde as temperaturas diurnas anuais alternem entre os 20 e 28 graus Celsius, podendo, no entanto, suportar gamas de temperaturas entre os 18 e os 32 graus Celsius.[16] Prefere uma precipitação anual média entre os 1.000 e 2.000 mm, podendo, no entanto, suportar precipitações anuais na ordem dos 800 a 3.000 mm.[16]

A curcuma sói de privilegiar solos férteis, bem drenado e com sombra.[17] Em todo o caso, é susceptível de se desenvolver bem tanto em áreas com forte exposição solar, como em espaços com sombra parcial. Prefere um pH do solo entre 6 e 7, mas tolera de 5,5 a 7,5.[17]

Na Índia, o cultivo enceta-se pouco antes da estação das chuvas, sendo que as primeiras folhas costumam despontar do solo passados cerca de 30 dias.[16] A colheita sucede quando as folhas murcham, passados cerca de 270 a 365 dias.[16]

As colheitas de curcuma geralmente variam entre as 7 e as 9 toneladas por hectare, quando é feito cultivo apenas em sequeiro e entre 17 e 25 toneladas por hectare, quando sob irrigação.[16]

O açafroeiro-da-índia está adaptado para medrar em áreas com seca sazonal e em florestas de monções.[15]

A característica principal do açafrão-da-índia é a forte cor amarela que a sua raiz transfere aos alimentos.[2] Como condimento, foi amplamente usado para colorir e adubar refeições, ao longo da história no mundo oriental. [16] Com efeito, é um ingrediente essencial para acentuar o sabor e dar cor a muitos pratos da cozinha indiana, principalmente o arroz, e outrossim é um dos componentes do tempero pó de caril, típico das culinárias do sul da Ásia e indo-portuguesa.[16]

Presentemente, é ainda usado para colorir laticínios, bebidas e mostarda, em cozidos, sopas, ensopados, molhos, peixes, pratos à base de feijão, receitas com ovos, maioneses, massas, frango, batatas, couve-flor e até pães. O seu amido usa-se na confecção de bolos e, como corante, usa-se em macarrões, mostardas, queijos, ovos, salgadinhos, margarinas e carnes.[16]

Deve ser dissolvido em caldo quente, antes de se poder incorporar num prato.

Possui o composto ativo curcumina, que, juntamente com outros curcuminóides, têm sido estudado pela medicina para a prevenção e o tratamento de diversas condições médicas.[18] Porém, a qualidade de muitos estudos e da interpretação dos resultados têm sido contestados.[19]

Os potenciais benefícios alegados incluem: atividade anti-inflamatória;[20] ação antioxidante;[21][2] redução do nível de glicose no sangue em pacientes com diabetes;[22] redução de fatores de risco associados a doenças cardiovasculares;[23] tratamento do mal de Alzheimer;[24] e prevenção de câncer.[25]

Apesar dos potenciais benefícios para a saúde, a curcumina é mal absorvida pelo trato gastrointestinal, sendo quase totalmente excretada nas fezes; portanto o consumo por via oral produz apenas traços residuais da substância no sangue.[26]

  • Joaquim de Almeida Pinto. Diccionario de botanica brasileira. 1873.

Referências

  1. S.A, Priberam Informática. «curcuma». Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Consultado em 22 de junho de 2025 
  2. a b c d e Barroqueiro, Deana (1 de janeiro de 2020). História dos Paladares Volume 1. Lisboa: Prime Books. p. 456. 486 páginas. ISBN 978-989-655-429-3 
  3. S.A, Priberam Informática. «açafroeira». Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Consultado em 22 de junho de 2025 
  4. S.A, Priberam Informática. «açafroeira-da-índia». Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Consultado em 22 de junho de 2025 
  5. S.A, Priberam Informática. «AÇAFROEIRO-DA-ÍNDIA». Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Consultado em 22 de junho de 2025 
  6. S.A, Priberam Informática. «AÇAFRÃO-DA-ÍNDIA». Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Consultado em 22 de junho de 2025 
  7. a b S.A, Priberam Informática. «AÇAFRÃO-DAS-ÍNDIAS». Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Consultado em 22 de junho de 2025 
  8. S.A, Priberam Informática. «açafrão-da-terra». Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Consultado em 22 de junho de 2025 
  9. Infopédia. «turmérico | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Dicionários infopédia da Porto Editora. Consultado em 22 de junho de 2025 
  10. Infopédia. «curcuma | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Dicionários infopédia da Porto Editora. Consultado em 22 de junho de 2025 
  11. Infopédia. «turmérico | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Dicionários infopédia da Porto Editora. Consultado em 22 de junho de 2025 
  12. «Dictionary.com | Meanings & Definitions of English Words». Dictionary.com (em inglês). Consultado em 22 de junho de 2025 
  13. Littré. «Dictionnaire de la langue française (Littré)» (em francês). Consultado em 15 de Agosto de 2018 
  14. a b c d e «Curcuma longa - Useful Tropical Plants». tropical.theferns.info. Consultado em 22 de junho de 2025 
  15. a b c Huxley, Anthony; Griffiths, Mark; Levy, Margot (1992). The new Royal horticultural society dictionary of gardening. Royal horticultural society New ed. ed. London New York: Macmillan Stockton press 
  16. a b c d e f g h i j «Curcuma longa - Useful Tropical Plants». tropical.theferns.info. Consultado em 22 de junho de 2025 
  17. a b Facciola, S. (1998). «Cornucopia II: a source book of edible plants». World Vegetable Center (em inglês). Consultado em 22 de junho de 2025 
  18. Pagano, Ester; Romano, Barbara; Izzo, Angelo A.; Borrelli, Francesca (agosto de 2018). «The clinical efficacy of curcumin-containing nutraceuticals: An overview of systematic reviews». Pharmacological Research. 134: 79–91. ISSN 1043-6618. doi:10.1016/j.phrs.2018.06.007 
  19. Nelson, Kathryn M.; Dahlin, Jayme L.; Bisson, Jonathan; Graham, James; Pauli, Guido F.; Walters, Michael A. (11 de janeiro de 2017). «The Essential Medicinal Chemistry of Curcumin». Journal of Medicinal Chemistry (em inglês). 60 (5): 1620–1637. ISSN 0022-2623. PMC 5346970Acessível livremente. PMID 28074653. doi:10.1021/acs.jmedchem.6b00975 
  20. Sahebkar, Amirhossein; Cicero, Arrigo F.G.; Simental-Mendía, Luis E.; Aggarwal, Bharat B.; Gupta, Subash C. (maio de 2016). «Curcumin downregulates human tumor necrosis factor-α levels: A systematic review and meta-analysis ofrandomized controlled trials». Pharmacological Research. 107: 234–242. ISSN 1043-6618. doi:10.1016/j.phrs.2016.03.026 
  21. Panahi, Yunes; Hosseini, Mahboobeh Sadat; Khalili, Nahid; Naimi, Effat; Majeed, Muhammed; Sahebkar, Amirhossein (dezembro de 2015). «Antioxidant and anti-inflammatory effects of curcuminoid-piperine combination in subjects with metabolic syndrome: A randomized controlled trial and an updated meta-analysis». Clinical Nutrition. 34 (6): 1101–1108. ISSN 0261-5614. doi:10.1016/j.clnu.2014.12.019 
  22. Melo, Ingrid Sofia Vieira de; Santos, Aldenir Feitosa dos; Bueno, Nassib Bezerra (fevereiro de 2018). «Curcumin or combined curcuminoids are effective in lowering the fasting blood glucose concentrations of individuals with dysglycemia: Systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials». Pharmacological Research. 128: 137–144. ISSN 1043-6618. doi:10.1016/j.phrs.2017.09.010 
  23. Qin, Si; Huang, Lifan; Gong, Jiaojiao; Shen, Shasha; Huang, Juan; Ren, Hong; Hu, Huaidong (11 de outubro de 2017). «Efficacy and safety of turmeric and curcumin in lowering blood lipid levels in patients with cardiovascular risk factors: a meta-analysis of randomized controlled trials». Nutrition Journal (em inglês). 16 (1). ISSN 1475-2891. PMC 5637251Acessível livremente. PMID 29020971. doi:10.1186/s12937-017-0293-y 
  24. Mishra, Shrikant; Palanivelu, Kalpana (2008). «The effect of curcumin (turmeric) onAlzheimer′s disease: An overview». Annals of Indian Academy of Neurology (em inglês). 11 (1). 13 páginas. ISSN 0972-2327. PMC 2781139Acessível livremente. PMID 19966973. doi:10.4103/0972-2327.40220 
  25. Youssef, Khairia M.; El-Sherbeny, Magda A. (maio de 2005). «Synthesis and Antitumor Activity of Some Curcumin Analogs». Archiv der Pharmazie (em inglês). 338 (4): 181–189. ISSN 0365-6233. doi:10.1002/ardp.200400939 
  26. Ammon, Hermann; Wahl, Martin (fevereiro de 1991). «Pharmacology ofCurcuma longa». Planta Medica (em inglês). 57 (01): 1–7. ISSN 0032-0943. doi:10.1055/s-2006-960004 

Ligações externas

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